A FORÇA DO PSEUDO NA CONTEMPORANEIDADE

 

ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO*

 

29/05/2009

  

                   Na era do pseudo, o original tem se desoriginalizado, sim. Porque o original se aproxima do natural ao invés do ridículo. 

                   Agora, salvo consideráveis exceções, tem-se pseudo-advogados, pseudo-médicos, enfim, pseudo-bacharéis. Pois, as faculdades estão nas feiras livres, na internet, vendendo, a quem der mais, diplomas de graduação, pós-graduação, mestrado, etc. Aliás, senhores vestibulandos, não deixem cair os seus documentos, ou os esqueçam em guichês de uma Instituição de Ensino Superior, pois correrão o risco, de no reencontro, independentemente de vestibular, já estarem matriculados no curso pretendido. 

                   Agora, mulher original é raridade. Já não se pode ignorar que se convivia, naquela hora, com pseudo-sussuros, declarações e orgasmos. Outrossim, agora, falsificou geral, ou quase tudo. São pseudo-seios, turbinados e siliconados; pseudo-bumbuns empinados e barriguinhas-tanques, filhas da lipoaspiração. Aliás, bem diferente da velha pedra ume, que as filhas do Jalapão utilizavam, naquela época, para fazer o rejuntamento das entranhas, mantendo vivo o interesse do marido, antes que a pseudo-cirúrgia de períneo. 

                   Nunca se viu tanta ausência de criatividade musical. Agora, tem-se a pseudo-música. A orquestra num só instrumento, onde teclados eletrônicos, programados ou direcionados por disquetes e CDs fazem tudo, inclusive playback de vocalistas-cantores, que não sabendo cantar, dublam em programas de auditórios. Ou seja, o som é pseudo, mas o ouvido continua distinguindo entre o acústico e o metálico, porque aprendeu a ouvir com a máxima cristã: falo àqueles que têm ouvido de ouvir. 

                   Nunca a fotografia de Zé Carlos, Aristom e o saudoso Augusto Gago fizeram tanta falta ao fiel flash das imagens. Agora, em torno de tudo o retoque digital. A pseudo-imagem, o pseudo-book, que apenas resistem por algum instante, pois que após a retirada da maquilagem, as rugas, espinhas, sombras e cicatrizes encontram o seu real campo de existência. Aliás, naquela época, a arte era condensar, numa foto 3/4, o corpo inteiro, apesar da estatura, como se dera com o falecido Zé Zoim, em seu título eleitoral, através da arte do de cujus, e artista-fotógrafo, Augusto Gago. Artista é artista!

                   Agora tem-se o pseudo-conhecedor, porque apesar de ver todas  as  imagens e informações, em TVs e Internet,  todavia,  nada, ou

quase nada retém. Porque aprendeu a fazer apenas leitura dinâmica ou ultra-dinâmica, fixando apenas títulos de matérias ou imagens trágicas e sensacionalistas. Aliás, não se pode sequer balançar muito a cabeça, senão as informações, de tão sedimentadas, caem antes do bate-papo. 

                   Enfim, depois que ficou chique, ao arrepio da fraude, recosturar etiquetas famosas, em roupas domésticas, filhas da insuperável máquina Singer. Agora, tênis, aparelhos eletrônicos, CDs, DVDs, com a roupagem dos pseudos, são territórios comuns em lares, que vão da burguesia ao território livre dos camelódromos no País. 

                   Quando J. Cristo afirmava, para se ter cuidado com os pseudo-profetas, talvez, tenha sido muito econômico em sua parábola, sem exaltar que, ao lado destes, viriam, salvo honrosas exceções, os pseudo-padres, adúlteros e pedófilos, que se camuflariam em sermões, de fazer tremer túmulo de orador seicentista, como Padre Vieira, desde que, permanecessem como artífices da correção e educação da célula máter.  

                   Confundiram discursos com técnica xula de fisiologismo, onde pseudo-letrados, atrelam a falsa oratória, sob o manto da ignorância popular, para garantir mais uma safra de eleição. O saudoso Manoel Vogado da Silva (Xêro), apesar dos tropeços na fala, exaltava ao ex-prefeito, Joca Costa, acerca dos perigos das técnicas, exaltando: “Pau Borges (Mauro Borges) vem aí, cuidado! 

                   Agora, a segurança é instinto pessoal. Entre o pseudo-policial e Delegado, apesar das notáveis exceções, não se sabe qual se esconde na farda, para negociar a arma ou complementar o seu parco salário. O Delegado Zeferino Moura era diferente. Acelerava o seu Jeep-Williams, e ladeado de cordas, porretes, dentes e unhas, trancafiava o meliante nas grades, garantindo a paz, ordem, e segurança social na Terrinha. De saudade, também, se vive. 

                   Por fim, nome verdadeiro é apenas um detalhe. Agora, codinomes, pseudônimos, titulam as pessoas naturais, retratando o pseudo, antes que o real. Artur é Zico, Maria das Graças, é Xuxa, Edson é Pelé, enfim, Chico Farinha Seca, não é Francisco.

                   O rótulo é que ser original é brega. O importante é vestir a roupagem do pseudo, do falso, do ilusório. No entanto, o original iguala a todos em 07 palmos de terra, na condição de humanos, de espíritos, de cristãos. Quando se tiram as roupas, vestes, maquilagens, resta o original, o comum, que exalta a isonomia entre os filhos de Deus. Se o pseudo é sonho, é condição de vedetismo social, vou me reconciliando com o original, para que Este não me ignore no instante da volta.

                               * ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO - Advogado e Professor Universitário

 

 

       

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