MASSIFICAÇÃO E CONSUMISMO NA

PERSPECTIVA DO TER E SER

 

ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO*

 

10/06/2010

  

                            Desde que somos humanos, vivemos em coleção, e para melhor sobrevivência, procuramos adaptar ao meio. Além disso, criamos uma família, buscamos a escola e a religião. Mas, no contexto social, essa busca de adaptação, pode até nos alavancar ao progresso, no entanto, noutras circunstâncias, pode nos trazer o calvário.                 

                            Na sociedade de consumo, onde a mídia massifica, impõe as suas regras, nós, até involuntariamente para adaptação a esse meio, vamos consumindo os seus produtos, sem saber se podemos, ou não. Nesse momento, o importante é TER, e não SER. E, a partir daí, então, nos tornamos escravos de um sistema de consumismo e sofremos os rigores de um regime capitalista, com juros, capitalização, correção monetária, cláusula penal, perdas e danos, etc.

                            Não há pessoas mais consumistas que nossos irmãos norte-americanos. Ou seja, lá eles estão muito mais preocupadas em TER do que SER. E, com isso se endividaram, hipotecaram as suas casas por mais de uma vez, e agora estão vivendo nas ruas, debaixo das pontes ou árvores, prédios abandonados, ou dentro dos próprios veículos.

                            E o mesmo consumismo deles, nós passamos a ter por aqui. Vejamos quantos eletrodomésticos ou aparelhos eletrônicos obsoletos estão em nossas casas, em gavetas, armários e prateleiras. E quantos carnês estão sobre as mesas para quitação.

                            Nós TEMOS, mas não SOMOS. Não somos felizes, em função das dívidas, do desespero, do padrão de vida que caiu. Do orçamento que ficou combalido, e não suporta mais. É certo que nas relações afetivas, onde há amor a união resiste. Todavia, quando falta o conforto, as coisas se complicam. Surgem discussões, divórcios, separações. Falta dinheiro prá isso, prá aquilo e sobram dívidas e carnês.

                            Nunca foi tão fácil comprar isso e comprar aquilo em tantas prestações. Todos realizaram o sonho de TER isso e TER aquilo. Mas, nunca fizeram um pequeno esforço em SER isso ou SER aquilo outro. Aliás, os axiomas populares sempre têm ensinado gratuitamente: seja previdente, não gastes mais do que ganha. Não sejas perdulário, pois, a quem muito foi dado muito será cobrado.

                             Ainda constitui lição de vida, a premissa: se queres conhecer a causa das tuas aflições terrenas, consultai a sua mente, em sã consciência, e obtereis uma resposta, se isto ou aquilo teria acontecido, se não tivesse praticado essa ou aquela ação. Olha aí a lei de causa e efeito, de ação e reação.

                            Necessitamos reaprender a conviver com o simples, com o pouco, sem excessos. Precisamos, como bons aprendizes da escola do mundo, policiar nossos ímpetos de consumo. Sermos previdentes, cautelosos. Readquirir velhos hábitos, gestos, que não nos custavam nada e eram salutares.     

                            Quantas pessoas viviam tão bem, no alpendre a conversar. Apreciando a natureza. Interagindo com a família. Outrossim, com o consumismo desregrado ampliaram suas necessidades e mataram o que havia de melhor: o diálogo, a simplicidade, o prazer do convívio no seu próprio habitat. 

                            É tempo de cautela, de previdência. De controlar os excessos, os impulsos, os gastos desnecessários. Pois, aquilo que o futuro no reserva, estamos longe de conhecer os seus efeitos. Mas, é tempo, de aprendermos a SER antes que TER. Assim, estaremos conhecendo a nós mesmos, as nossas limitações, as nossas más tendências e inclinações. Porque, ao final, a grande cura e acerto, na maioria das vezes, está em nós mesmos, que não fazemos a auto-análise, auto-reflexão.

                            Nós nos tornamos extremamente acomodados, em sempre buscar, nos outros, as soluções para as nossas crises, que, não raras vezes, se antepõem aos nossos próprios olhos, através de uma simples reflexão ou auto-análise. Contudo, não abrimos mão do divã do psicólogo, para fazer uma lista de disso e daquilo que necessitamos. Quando a maioria desses itens, com um pouco de esforço, nós mesmos poderíamos ter feito, sem desespero, sem incomodar o próximo, sem aumentar os gastos. E o que é bem mais importante: crescendo, pelo esforço, pelo desprendimento, pelo aprendizado, onde passaríamos a SER, antes que TER.

                            A maioria das soluções, dos nossos conflitos, está diante das nossas próprias vistas. Mas, nos quedamos, em depender de outra pessoa, de uma máquina, de objeto eletrônico. E sequer podemos mais raciocinar. Caímos numa letargia, onde as máquinas nos controlam e nos impulsionam, quando nós poderíamos colocá-las ao nosso serviço. Eis aí a lógica do princípio da automação.

                            O homem, com sua inteligência, é impelido a situações novas, difíceis, para crescer e evoluir, e não para acomodar-se, dando-se por vencido. É tempo, para dentro da dificuldade, achar forças para vencer os obstáculos. Deus deu às aves dos céus asas para voar e ao homem inteligência para suprir as suas necessidades. Ao final de tudo isso, uma lição, exsurge, nesta seara: vamos encontrar, novamente, o caminho do SER, que o TER será apenas uma etapa consequencial.

 

                                 

*Advogado e Professor universitário. Especialista em Processo Civil e

Mestrando em Direito Civil

       

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