REENCARNAÇÃO:
REALIDADE OU INVENÇÃO?
Wilson José Rodrigues Gomes(*)
24/11/2004
O
conceito de reencarnação é milenar. O Bramanismo ou Hinduísmo é a religião
mais antiga do planeta, sendo a primeira que compreendeu a evolução do princípio
espiritual pelo renascimento. As primeiras escrituras da doutrina espiritual
hindu são os Vedas. A idade dos Vedas ainda não pôde ser fixada.
Souryo-Shidanto, astrônomo hindu, cujas observações sobre a posição e
percurso das estrelas remonta a cinqüenta e oito mil anos (a. C.), fala dos
Vedas como obras já veneráveis pela sua antiguidade. Os Vedas constituem o
molde que formou a religião primitiva da Índia.
Os
Vedas afirmam a imortalidade da alma e a reencarnação:
“Há
uma parte imortal do homem que é aquela, ó Agni (fogo, espírito criador),
que cumpre aquecer com teus raios, inflamar com teus fogos. – De onde nasceu
a alma? Umas vêm para nós e daqui partem, outras partem e tornam a
voltar”.
Krishna
foi o inspirador das crenças dos hindus. Essa grande figura aparece na História
como o primeiro dos reformadores religiosos, dos missionários divinos.
Renovou as doutrinas védicas, apoiando-se sobre as idéias da Trindade, da
imortalidade da alma e de seus renascimentos sucessivos.
Krishna,
rodeado por certo número de discípulos, ia de cidade em cidade espalhar os
seus ensinos:
“O
corpo, dizia ele, envoltório da alma que
aí faz sua morada, é uma coisa finita; porém, a alma que o habita é invisível,
imponderável e eterna”.
“O
destino da alma depois da morte constitui o mistério dos renascimentos. Assim
como as profundezas do céu se abrem aos raios dos astros, assim também os recônditos da vida se esclarecem à luz
desta verdade”
“Quando
o corpo entra em dissolução, se a pureza é que o domina, a alma voa para as
regiões desses seres puros que têm o conhecimento do Altíssimo. Mas, se é
dominado pela paixão, a alma vem de novo habitar entre aqueles que estão
presos às coisas da Terra”.
“Todo
renascimento, feliz ou desgraçado, é conseqüência das obras praticadas nas
vidas anteriores”.
Tais
são importantes pontos dos ensinos de Krishna sobre a reencarnação, que se
encontram nos livros sagrados conservados ainda hoje nos santuários do sul do
Indostão.
Os
budistas também têm conhecimento da reencarnação. As escrituras sagradas
do budismo denominam-se tripitaka, que apesar de ter surgido aproximadamente
seiscentos anos a. C. e das inúmeras ramificações sofridas, a grande
maioria ainda preserva o ensinamento de Buda: “Aquele que chegou ao fim
da corrente dos renascimentos, é dono da sabedoria, tendo realizado tudo
quanto deve ser realizado”.
No
islamismo, o livro sagrado Corão ou Alcorão, também faz referência à
reencarnação.
O
Corão está dividido em suras (ou suratas).
A
Sura 2: 28, diz:
“E
Ele mandou as chuvas lá de cima em quantidade apropriada, e traz de volta a
vida para a terra morta, tal qual serás renascido”.
No
judaísmo, apesar da maioria dos judeus, como dos maometanos, não serem
adeptos da reencarnação, é possível encontrar diversos trechos que se
referem a vidas sucessivas no livro Zohar, do rabino Moisés de Leon, bem como
na Miscelânea Talmúdica de Hershon e outros.
Do
Zohar, que seria a Cabala recompilada e publicada no ano de 1.280 de nossa
era, foi transcrito o seguinte texto:
“...se
não cumpriram essa condição durante uma vida devem começar noutra, e numa
terceira e assim por diante...”.
Masaharu
Taniguchi, japonês fundador da Seicho-No-Iê, ensina:
“A
morte do corpo não pode significar a morte do homem. Ele apenas muda de nível,
perdendo sua condição carnal. E passa a viver numa dimensão espiritual,
retorna ao mundo terreno, para realizar uma segunda condição corporal, o que
deixou de realizar na primeira, e essas passagens sucessivas pelo universo
terreno vão permitindo atingir um estado de perfeição (...)”.
A
ciência, diante de irrefutáveis evidências, está desistindo de ignorar a
reencarnação. Em várias partes do mundo cientistas têm se empenhado no
estudo de tão séria questão. A título de ilustração, citamos pequeno
trecho extraído da obra científica de autoria da filósofa e física, Danah
Zohar e do médico psiquiatra Ian Marshall, intitulada Q S Inteligência
Espiritual:
“No
The Soul’s Code, o psicólogo jungiano James Hillman apresenta a “teoria
da bolota de carvalho”, que formulou para explicar nossas origens. Nós não
somos, diz ele, simplesmente o resultado combinado de nossa genética, meio
ambiente e educação. Todos nós temos um destino único, que trazemos ao
mundo com o ato de nascer. Todas as pessoas têm uma singularidade que pede
para viver e que já está pré-organizada antes de ser vivida”.
A
Bíblia cristã, apesar de muitos erros de tradução ou mesmo de interpretações
tendenciosas, é um manancial riquíssimo em passagens evidenciando a
reencarnação.
A
reencarnação por mais de quinhentos anos fez parte dos conceitos dogmáticos
da Igreja. Segundo anotações contidas no livro A Reencarnação na Bíblia,
de Hermínio C. Miranda, ed. Pensamento, citando outros autores, o conceito de
vidas sucessivas foi rejeitado pela Igreja Católica no Concílio de
Constantinopla, ocorrido no remoto ano de 553, por votação, na qual a
reencarnação perdeu por 3 a 2.
Informa-nos
Esse Capelli, em seu livro A Reencarnação, a Mediunidade e a Bíblia, ed.
Proluz, que o banimento da reencarnação se deu por imposição de Teodora de
Bizâncio; bela, inteligente mas vaidosa e ambiciosa esposa
de Justiniano, imperador romano, que era totalmente dominado por sua
beleza e diabólica inteligência.
Teodora não queria ser considerada humana, mas divina. Mas se todos os seres
humanos renascem para se aperfeiçoar e ela se encontrava na Terra, obviamente
era imperfeita e não deusa. Enquanto a Igreja aceitasse a reencarnação,
rejeitariam sua divindade. Sendo a Igreja Romana naquela época atrelada ao
Estado, os bispos (parte deles), atendendo à imposição de Teodora, por
intermédio de Justiniano, deliberaram pela proscrição da reencarnação da
Doutrina Cristã. Quem a ensinasse a partir de então seria considerado herege
e excomungado.
Assim,
a reencarnação naturalmente aceita por milênios e por povos de todos os
quadrantes da Terra, e culturalmente transmitida aos primeiros cristãos, foi
alijada do Cristianismo. E a partir do século VI,
cada ser humano passou a “ter direito” a unicamente uma vida na
Terra, uma única e exclusiva chance de se livrar do “fogo eterno”, aceso
e mantido pelo diabo e seus anjos.
Bibliografia:
1- A Reencarnação na Bíblia – Hermínio C.
Miranda – Editora Pensamento;
2- O Guardião do Templo – Marislei Espíndula
Brasileiro – Polieditora;
3- A Reencarnação, a Mediunidade e a Bíblia –
Esse Capeli – Editora Proluz;
4- Vôo Livre - Um Estudo Sobre a Reencarnação –
Ricardo Di Bernardi – Mundo Maior Editora;
5-
Depois da Morte – Léon Denis – Federação Espírita Brasileira.
(*)
Advogado, técnico de segurança do trabalho e consultor de empresas na
área de saúde e segurança do trabalho.