ENTENDENDO O HORÁRIO DE VERÃO

 

Wilson José Rodrigues Gomes(*)

20/02/2005

 

Nota de falecimento. Faleceu à meia-noite do dia 19 de fevereiro de 2005 mais um horário de verão. Se as contas não estiverem erradas é o 35º que o brasileiro resiste ao longo dos setenta e quatro anos de sua existência, instituído pelo Decreto 20.466, de 1º de outubro de 1931, materializado pela pena do Presidente Getúlio Vargas. O horário de verão no Brasil, não obedeceu a uma seqüência contínua, havendo interregnos de até dezenove anos, como o ocorrido entre 1966 e 1985.

O horário de verão foi parido em outras plagas, do outro lado do Atlântico. “Suas origens na verdade, remontam à Inglaterra do ano de 1907. Foi lá que um construtor londrino, membro da Sociedade Astronômica Real, chamado William Willett (1865-1915) deu início a uma campanha para diminuir o consumo de luz artificial, ao mesmo tempo em que estimulava o lazer dos britânicos. Num panfleto de 1907, intitulado "Waste of Daylight" (desperdício de luz diurna), Willett propôs avançar os relógios em 20 minutos nos domingos do mês de abril e retardá-los a mesma quantidade nos domingos de setembro. Willett não viveu o suficiente para ver sua idéia colocada em prática. O primeiro país a adotar o horário de verão acabou sendo a Alemanha, em 1916, seguido pela Inglaterra”.

“Hoje, aproximadamente 70 países utilizam o horário de verão em pelo menos parte de seu território. Nos países equatoriais (cortados pela linha do equador) e nos tropicais (aqueles situados entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio), a incidência da luz solar é mais uniforme durante todo o ano e dessa forma não há muitas vantagens na adoção do horário de verão. O Brasil é o único país equatorial do mundo que adota o horário de verão”.

A justificativa para a adoção do horário de verão é a economia de energia elétrica. Pelo menos para o bolso do consumidor brasileiro tal justificativa não tem fundamento algum, pois as faturas do consumo de energia elétrica nos meses de vigência do horário de verão não sofrem nenhuma redução dos kW/h, pois, o que se economiza no começo da noite se gasta no começo do dia. Ademais, nestas épocas de vacas magricelas qual a concessionária de energia, privada ou pública, se daria ao absurdo de pedir ao consumidor para não comprar seus produtos?

O que ocorre na verdade, não é a redução do consumo de energia, mas a sua racionalização. Explicando: o maior consumo diário de energia elétrica verifica-se entre as 18h00 e 21h00, período conhecido como horário de pico. Neste período crítico do dia, durante o ano todo, há um acréscimo exagerado de consumidores conectados ao sistema de potência das concessionárias de energia elétrica. São indústrias que ainda não desligaram suas máquinas, os chuveiros domésticos que são mais solicitados neste horário e a iluminação pública que entra automaticamente em funcionamento. Ressalte-se que lâmpadas e chuveiros são cargas resistivas que consomem muito mais energia que os equipamentos eletrônicos.

Outro fator relevante é que a energia comprada pelas concessionárias no horário de pico pode chegar a ser cem por cento mais cara do que no horário normal.

Com o horário de verão, o que ocorre é uma sutil “dilatação” do tempo e um “achatamento” da amplitude do pico, com uma distribuição um pouco mais racionalizada do consumo. Isto porque parte das indústrias parando mais cedo e os chuveiros igualmente sendo utilizados mais cedo, quando a iluminação pública entrar em operação o pico sofre uma retração, dispensando as concessionárias de comprar mais energia com preço majorado e em dólar.

Conclui-se, portanto, que a economia, mesmo não sendo expressiva, favorece tão somente às concessionárias e em termos financeiros, não em kW/h, mesmo assim favorecendo apenas os estados das regiões Sul e Sudeste, por se situarem mais distantes da linha do Equador, a rota do Sol.

Todavia, se fossem levadas em consideração as complicações relacionadas à adoção desse horário, como a avaria do estado de saúde das pessoas decorrente do desajuste do relógio biológico, dos inúmeros atentados contra a vida ocorridos nas manhãs ainda escuras, quando os trabalhadores demandam aos respectivos postos de trabalho e os estudantes às escolas, enfim, se fosse efetivamente respeitada a cidadania do povo brasileiro, esse famigerado horário de verão seria banido em caráter irrevogável, pois são pífios os benefícios que  proporciona.

 

 

Os parágrafos entre aspas foram compiladas do site da Astronomia no Zênite.


 (*) Advogado, técnico de segurança do trabalho e consultor de empresas na área de saúde e segurança do trabalho.

 

       

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