EDUCAÇÃO DA ALMA, A ALMA DA EDUCAÇÃO
 

Wilson José Rodrigues Gomes*

14/10/2007 

 

 

Desde o descobrimento do Brasil, a igreja Católica esteve presente nas atividades educacionais e religiosas, dentre outras, firmando-se o Catolicismo, por séculos, como a religião oficial do País. No sistema oficial de ensino, Religião era matéria obrigatória e tinha o mesmo peso das demais matérias.

No regime militar a Religião deixou de ser obrigatória, não mais reprovava, em substituição foi instituída uma nova cátedra com o pomposo nome de Educação Moral e Cívica.

Hoje, decorridas algumas décadas, foi banido o ensino religioso das escolas que tinha como meta o aprimoramento moral e espiritual dos jovens alunos, e da Educação Moral e Cívica nada restou,  nem de moral e muito menos de civismo.  

O que já não era satisfatório passou a ser caótico. A ética ausentou-se até das mais altas instâncias da administração do País; a violência grassou solta por todos os segmentos da sociedade; a corrupção institucionalizou-se de vez; a criminalidade agigantou-se, ficando cada dia mais cruenta, fugindo ao controle das autoridades; as drogas minaram seculares princípios morais, arruinando famílias inteiras e transformando seres humanos em trapos subumanos. O sagrado direito à vida tornou-se um exercício de insanidade e terror, levando milhares de jovens a abandonar a vida ainda no adolescer. Outros milhares, com o zeloso título de reeducandos, estão sendo amontoados em precários presídios, onde impera a promiscuidade, e quando de lá conseguem sair estão piores do que quando entraram.

Pateticamente pergunta-se: “Onde nós erramos?” Nós quem, cara pálida? – pergunta-se de novo. Nós, a sociedade como um todo, estamos sistematicamente errando na condução de nossa própria educação, cujo foco é direcionado unicamente para o intelecto, para a inteligência racional, ficando a educação do espírito, desde tempos imemoriais, abandonada à mercê de falsos profetas e mercadores da fé.

“É imprescindível e urgente reconhece-se que a dimensão espiritual do ser humano é essencial para o seu desenvolvimento integral. O estudo da educação do espírito deve ocupar espaço de prioridade junto às demais atividades no complexo da sociedade humana”, - nos ensina Marcus Alberto De Mario, escritor e educador.

E a quem compete implementar a educação do espírito? É notório que num país de vocação democrática, onde se professam os mais variados segmentos religiosos, não se pode eleger uma única religião como ferramenta oficial de lapidação espiritual do ser humano. Isso é conflitante com a Constituição Federal, que assegura ao cidadão o direito de professar qualquer credo.

Às religiões? Estas estão longe de ser o modelo sonhado para a redenção moral e espiritual do ser humano, mas, apesar do caos que impera na sociedade humana, a situação não está inda pior graças a elas. No entanto, as religiões como instituições autônomas dentro do Estado, estariam mais consolidadas como gestoras da parte espiritual das pessoas se não cometessem tantos pecados, como a devoção à política partidária, ou se transformando em lucrosas instituições financeiras.

A física quântica nos alerta que tudo no Universo está em constante evolução, e as religiões, com tão importante papel a desempenhar no processo evolutivo do rebanho humano, não deveriam nunca, ficar estagnadas no tempo e no espaço, ou aterrorizando indefesos fiéis com infernos escaldantes e teratológicos em vez de evangelizá-los, como está acontecendo neste exato momento alhures.

Já o Estado, como uma monumental centopéia, se atrapalha na própria incompetência e não consegue administrar satisfatoriamente sequer seu excessivo conjunto pernas.  E ante sua incapacidade diante de tão graves problemas, aposta na solução com o uso da repressão e na construção de presídios. Fala-se também em construção de mais escolas como remédio milagroso na solução definitiva dos nossos problemas sociais, mas é um equívoco nacional. Basta acionar o controle remoto da TV que se perceberá que os mais infames turbadores de nossa sociedade são pessoas com notável nível escolar e muitos estudaram nas melhores escolas, outros fizeram pós-graduação até no exterior.

A eficácia está como dito já foi, na educação da sede da inteligência do ser humano: o espírito. Não sendo assim, resta criar mais um Ministério. O Ministério da Construção de Presídios.

 


 (*) Advogado, técnico de segurança do trabalho e consultor de empresas na área de saúde e segurança do trabalho.

       

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