Bando de incompetentes
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
08-12-2009
O que mais surpreende nas imagens de alguns políticos de Brasília recebendo propina, divulgadas pela imprensa nacional, é a incompetência dos caras. Que existem políticos bandidos no país, isso é fato. O governador Arruda é reincidente. Há pouco mais de oito anos, confessou o crime, chorou em plenário, citou os filhos, pediu perdão, toda aquela patacoada costumeira.
O eleitor candango confiou e lhe deu nova chance, afinal era réu primário. Quando falo de incompetência, é que hoje todo mundo sabe que as vigilâncias são muitas, câmeras estão por todos os lados, até em celulares. No caso, as cenas foram produzidas pelo próprio pagador, que estava a serviço da Polícia Federal, em troca de uma pena mais branda. Agiram como as incautas namoradas que têm suas imagens divulgadas na internet em pleno ato sexual.
Era de se esperar que a prática levasse à perfeição. Já que são bandidos, e trazem a crença na impunidade, poderiam, ao menos, tomar cuidados básicos. Nem é preciso ser larápio para saber que ir pessoalmente buscar o dinheiro é ingenuidade sem tamanho. Arruda embolsou um punhado de notas e teve apenas o cuidado de pedir uma sacola e determinou que levassem a res furtiva. Paulo Octávio, experiente, determinou que sua parte fosse entregue a um assessor. Ao menos não apareceu cometendo crime em pleno horário nobre.
Outros foram mais ousados. O presidente da Câmara Legislativa, sem pudor, colocou dinheiro em todos os buracos, até nas meias. E as caras? Sorridentes, ávidas pela grana, lambendo beiços de tanta alegria. Os mais descarados até fizeram oração.
D’outro lado, o presidente Lula, em mais uma prova de que sempre perde a oportunidade de ficar calado, afirmou em entrevista que “as imagens não falam por si”. É o fim! Mas nós sabemos que o Presidente se encontra numa situação delicada, afinal tem seus próprios meliantes para defender. Disse que caixa dois é normal, daí não se poder esperar que, enquanto chefe da Nação, acalente o povo – verdadeiras vítimas do crime. Qualquer coisa que disser poderá ser usada contra si mesmo.
A imagem do Waldomiro Diniz recebendo propina – cerne do “mensalão” – é ficha, digna de filme B, ante as cenas chocantes da Caixa de Pandora. As cenas daquela deputada, serelepe, entrando na sala, colocando o dinheiro na bolsa e saindo fagueira, chega a ser hilária. Dona de casa, matrona, talvez avó, pega numa situação dessas, que vexame!
Bom que sejam incompetentes. Só assim nos proporcionam a possibilidade de descobrirmos suas rapinagens. Mas, e os competentes? É, existem. Para citar o maior, lembre-se de Sarney. Ninguém enxerga nada que ele faz, embora saibamos de tudo. Não há provas concretas, as imagens são raras. É como o caso do marido traído, que só acredita se presenciar a esposa com outro, no ato, in loco, embora saiba que está sendo enganado. Ele anda por aí há séculos, com ar de autoridade, ex-presidente da República, homem que segue à risca a “liturgia do cargo”, membro da Academia Brasileira de Letras – um gangster intelectual.
No Brasil, a impunidade para políticos é quase certa. Mas ninguém tolera exageros, incompetência. Com aquelas imagens, em que pese Lula ter dito que “não falam por si”, é bem capaz que os envolvidos – vejam só! – sejam punidos. E não porque haja disposição para tanto, mas é que o povo, principalmente o de Brasília, se sente traído, envergonhado, humilhado mesmo. Arruda – viu-se agora – jamais poderá ser ressocializado, reintegrado ao convívio com os homens de bem. Seu destino é ser preso na caixa, não na de Pandora, mas numa que contenha grades.
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