Imbecilidades de um gênio
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
08-12-2009
Chico Buarque de Holanda é ícone de várias gerações de brasileiros. Ouço sua música desde a adolescência e guardo com carinho discos que contêm boa parte do seu acervo. A fase áurea se deu justamente durante o período da ditadura militar e sua genialidade foi utilizada para ludibriar os censores do governo, que não conseguiam perceber as metáforas inteligentes do letrista.
Contudo, em que pese minha admiração pelo poeta e músico, noto que, quando se trata de política, suas imbecilidades só são comparáveis às de Pelé, outro que costuma abrir a boca quando não tem certeza.
Chico é idolatrado, principalmente, por todos os que lutaram contra os desmandos militares, numa época em que a liberdade de expressão era coisa do capeta. Apesar de todo esse repertório e cabedal, o homem se transformou num hipócrita. Hoje, defende com unhas e dentes a política insana de Fidel Castro, em Cuba. Para ele, desde que seja de esquerda, a ditadura é válida.
O nosso nobre poeta faz apologia do comunismo, mas gosta mesmo é de usufruir os louros do capitalismo. Fico imaginando por qual razão um de seus apartamentos é localizado em Paris e não em Havana. Assim como José Saramago, comunista de carteirinha, que mora numa paradisíaca ilha espanhola, suas ações ficam mais na teoria do que na prática. Claro que não condeno quem possui apartamento em Paris ou mora num paraíso, mas seria bom que detentores de tais fortunas fossem mais coerentes com sua “ideologia”. Também sou admirador do escritor português e concordo com muito do que ele escreve, embora sua postura política seja, igualmente, hipócrita.
Há alguns anos, Fidel mandou executar cubanos que foram pegos tentando chegar aos Estados Unidos, a bordo de jangadas. A atitude, por inexplicável, fez com que Saramago, num surto de lucidez, rompesse com o líder caribenho. A imprensa correu para saber qual a opinião de Chico Buarque sobre o episódio. Ele se manteve de boca fechada.
Recentemente, Chico voltou a mostrar sua cara, quase sempre sumida dos palcos do Brasil, locais que jamais poderia abandonar. E apareceu da forma que ultimamente tem sido mais constante: assinou um manifesto, juntamente com outros intelectuais, em defesa do MST. Esse movimento de há muito perdeu a característica social que inspirava no início e se transformou num celeiro de vândalos, desocupados, baderneiros e criminosos.
Qualquer pessoa com um mínimo bom senso condenaria a destruição de milhares de pés de laranja por integrantes do Movimento. Mas Chico, fazendo coro com a Pastoral da Terra, assinou manifesto "contra a violência do agronegócio e a criminalização das lutas sociais e contra a CPI do MST".
Buarque é considerado um homem discreto, avesso a entrevistas e de pouca fala. Seria muito bom que permanecesse assim e abrisse a boca apenas para cantar e utilizasse a caneta tão somente na elaboração dos seus versos e livros. Não há ideologia que justifique a defesa de atitudes como as do MST e do ditador cubano, principalmente por vir de um homem que, num período da vida, sentiu na pele o que é viver sem liberdade.
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