A grande incógnita
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
23/03/2010
Uma das grandes incógnitas da vida é a morte. Esta última é o alimento das religiões. Se fôssemos imortais ninguém perderia tempo frequentando igrejas, sinagogas ou mesquitas. É o medo de morrer que faz muitos lotarem os templos em busca da vida eterna.
O homem, que no dizer do Frei Betto nasceu com prazo de validade e vários defeitos de fábrica, deveria se regozijar por estar aqui, já que é fruto de uma acirrada competição, que começou ainda quando era apenas um espermatozóide e lutou bravamente para penetrar o óvulo. Por esse prisma, todo ser humano é um herói, afinal poderia estar entre os milhões que não conseguiram ser fecundados ou, então, um desafortunado que se perdeu nalgum ralo de banheiro por conta da masturbação masculina. Estamos aqui e isso é ótimo. Portanto, vivamos com intensidade.
Outra coisa que não combina é o medo que muitos religiosos têm da morte. Ora, se se acredita na vida eterna, qual a razão para tanto? Ao contrário, a morte deveria ser um momento de festa e júbilo, afinal o sujeito está indo ao encontro do Criador. Mas, qual nada. Ninguém quer morrer e, por via das dúvidas, é melhor esticar ao máximo a existência mundana. Não deixa de ser um paradoxo.
Richard Dawkins, biólogo inglês, em seu livro O Gene Egoísta, publicado em 1976, traz a interessante teoria de que nós, e todos os seres vivos, somos apenas máquinas de sobrevivência dos genes e a eternidade, para ele, é a perpetuação deles – que são transmitidos por meio das células sexuais – nos corpos dos filhos, netos, bisnetos e assim por diante.
A verdade é que esse negócio de gene não comove ninguém. O fiel está mais interessado em ir para um lugar chamado paraíso, repleto de animais dóceis e pessoas com asas. No entanto, pensando bem, talvez fosse melhor se a vida eterna pudesse ser continuada aqui mesmo. O céu, conforme pintam as religiões, deve ser um lugar muito chato, cheio de gente boazinha e de olhar meloso. Bom seria se pudéssemos beber à vontade e não sentir ressaca e nem matar os outros nas rodovias e ruas das cidades; fumar e não morrer de câncer; fazer sexo adoidado e não morrer de Aids. Isso sim seria uma vida de se pedir a Deus.
Por outro lado, o inferno deve ser um lugar bem interessante. Já pensou bater um papo de fim de tarde com Vinícius de Moraes, Paulo Autran, Bertrand Russell e Charles Darwin? Sinceramente, não me vejo travando uma conversa inesquecível com a Madre Teresa de Calcutá ou tocando harpa para mulheres sensuais e castas.
Enquanto essa grande incógnita chamada morte não chega, vivamos com prazer, alegria e responsabilidade, cuidando da saúde e amando nossas esposas, pais, filhos e amigos. E fazendo sempre o bem. Quem acha que é mais interessante garantir a vida eterna rezando e orando, deixando de fazer um monte de coisas em nome de sua religião, é pena, mas é uma opção que deve ser respeitada. O problema é quando se utiliza a fé para matar, como acontece com frequencia. Se o sujeito é religioso e mantém viva minha família, ele pode passar a vida inteira ajoelhado em busca da salvação e isso não vai me incomodar. De minha parte, prefiro aguardar a morte tomando vinho e ouvindo uma boa música...
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