Viver e não ter a vergonha de ser feliz!

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*                                                                                                        

23/03/2010

 

O título acima é um verso da música O que é, o que é?, de Gonzaguinha. Ela é considerada o hino de Custódio Pixuri, ou Tode, ou Todão, ou simplesmente Custódio. E se tornou sua música justamente por ser a que melhor lhe traduz a própria vida. Está aí um homem que sabe viver, que sabe aproveitar o que a existência nos reserva de melhor.

Conheci Todão já tarde, embora nunca seja tarde para conhecê-lo. Quando fui estudar em Anápolis, Estado de Goiás, no longínquo ano de 1992, depois de uma breve temporada em Goiânia, percebi o quanto o pessoal da minha cidade, Dianópolis, reverenciava esse homem. E era uma reverência sincera, leve, bondosa, sem formalismos, como é a vida do próprio reverenciado.

Todão – é assim que o chamo – casou-se com Aracy, uma mulher que nasceu para ele, sem dúvida alguma. Ela é alegre, espontânea, simpática, educada e – fato inteiramente relevante – tem senso de humor, qualidade imprescindível para se viver ao lado dele.

Custódio é ícone de várias gerações. Ele tem quase a idade do meu pai, mas sempre conviveu e convive com adolescentes e jovens de todas as épocas, o que faz sua aparência ser incrivelmente melhor do que aquela que a cronologia do tempo sugere. Todão é sujeito de boas tiradas e gargalhadas, de bons causos e repleto de peculiaridades.

Estar ao seu lado é certeza de divertimento, de alegria contagiante. Nunca o vi triste, sem um sorriso largo na face, com suas pernas cruzadas, a mão apoiada no queixo, um olhar brilhante e verde por detrás de uns óculos de professor. Aliás, Custódio é professor, no melhor sentido da palavra. Além de passar o seu tempo quase todo ensinando Matemática, ciência em que é exímio, desde cedo transmite o alfabeto dos números para incontáveis e agraciados alunos, que junto com ele desmitificaram o temido “bicho-de-sete-cabeças”.  

Tode passou muitos anos em Goiânia e hoje mora em Palmas, onde continua ministrando suas aulas, educando e formando gerações. E é aqui que os nossos laços se estreitam. Sua casa é o recanto de todas aquelas pessoas que gostam de viver e que não sentem vergonha disso. 

Carnaval e Todão são a cara um do outro. Em Dianópolis essa festa ficaria menos divertida sem ele. Custódio é irreverente, satisfeito com o dom da vida, sincero com suas palavras agridoces, confeitadas com a acidez e a doçura que dão sabor, que confortam e despertam, que animam e fazem refletir. Ele costuma pedir aos amigos que não lhe contem segredos, afinal não consegue esconder em si as verdades dos tempos, como fazem os baús. Fale para ele o que pode ser dito sem peias, sem arranjos, sem mentiras ou meias verdades.  

Eu, particularmente, gosto de conviver e ser amigo dos que eu possa admirar e ter como exemplo. Todão é desses. Ele tem uma simplicidade glamorosa, um encanto pessoal, um magnetismo que nos atrai como as mariposas para a luz. Quando muita gente fala bem da mesma pessoa, quando todos querem estar ao seu lado e gostam de ouvi-la, algo tem de ser dito, ou melhor, algo precisa ser escrito, documentado. O legado de Custódio certamente será o de nos ter ensinado a viver e amar a vida, a valorizar os momentos que ela nos proporciona. Deixará como herança aquilo que sempre ensinou, além da Matemática: o prazer de encontrar a felicidade nas coisas mais simples.

Na música, Gonzaguinha pergunta o que é a vida; seria ela a batida de um coração, alegria ou lamento? Ou é um divino mistério profundo? Ou um nada no mundo? Ou o sopro do Criador numa atitude repleta de amor? Para uns é uma doce ilusão, para outros é luxo e prazer. Creio que para Todão a vida é simplesmente viver e não ter a vergonha de ser feliz!

 

E-mail: dibeleno@yahoo.com.br

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires  advogado, membro das Academias Palmense, Dianopolina e Tocantinense Maçônica de Letras.  

       

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