Ele está de volta
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
23/03/2010
Um dos monstros que deixaram pedaços do corpo do menino João Hélio espalhados pelas ruas do Rio de Janeiro está em regime de semiliberdade pronto para aterrorizar novamente (passa o dia livre), graças à benesse concedida pelo famigerado e estúpido Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ele estava sob a proteção de uma ONG, chamada Projeto Legal. Completou 19 anos e, mesmo que tenha tentado matar um agente da unidade em que estava internado, ainda assim encontrava-se sob a custódia do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte.
E quem protegerá a família da vítima da dor, do sofrimento, da desilusão? Os homicidas, basta que sejam ameaçados de morte (uma piada!), receberão a solidária proteção do Estado brasileiro. João Hélio, que está morto, que morto fique.
Aqui, como se sabe, menores podem matar à vontade, podem cometer qualquer tipo de crime. Não é à toa que o tráfico utiliza muitas crianças como membros de suas gangues, afinal elas passarão pouco tempo na prisão – aliás, internadas. Essa história de que o crime não compensa é conversa fiada. O Brasil já provou que esse é um modo lucrativo de vida. São inúmeros os meliantes de todas as estirpes, desde os engravatados aos descamisados, que se dão bem com esse negócio.
E a população fica satisfeitíssima, usufruindo da catarse de ver um José Roberto Arruda atrás das grades. Daqui a pouco ele estará solto e ninguém mais fala nisso. Paulo Maluf, tempos atrás, passou um bom período na cadeia. Hoje é deputado federal por São Paulo. E o dinheiro que furtou do povo? Devolveu alguma coisa? Certamente nada. O mesmo acontecerá com o caso do mensalão do Distrito Federal. Esses meliantes deveriam ser obrigados a ressarcir toda a grana, mas nada disso acontece. Ficar preso, para quem não tem vergonha na cara, de nada adianta. O que atinge esse pessoal é mexer em seus bolsos, sempre tão polpudos. Quanto ao mensalão do PT, esse também tem tudo para acabar em nada. A única diferença com o do DEM é que este último teve um cineasta por trás, filmando tudo.
Num país onde a impunidade impera, assassinos como os de João Hélio enxergam um futuro promissor nessa vida do crime. Sabem que até os dezoito anos podem matar sem qualquer constrangimento. No final, eles serão protegidos pelo Estado.
A miséria, a desfaçatez, a desgraça humana tomou conta do nosso cotidiano. Estamos perdendo, a cada dia, os mais comezinhos valores éticos e morais. Estamos, na verdade, perdendo a referência e, junto com ela, as esperanças. Hoje os animais irracionais são muito mais protegidos do que os humanos. E os humanos mais desumanos entre nós são agraciados com os benefícios legais. Como disse Reinaldo Azevedo, em seu blog: “Assassinos do Brasil, uni-vos! Matem, trucidem, esfolem… E depois gritem: estamos sendo ameaçados de morte! E o Estado brasileiro há de zelar pela sua segurança”.
E aqui neste espaço aproveito para me solidarizar com a dor da família do João Hélio, ela que não possui ECA para protegê-la, que foi abandonada pelo seu próprio país, que não dispõe de ONG para defender seus direitos. Enquanto isso, o facínora que esquartejou uma criança inocente em praça pública é devidamente acolhido sob as asas de um Estado que perdeu o rumo, as estribeiras e o sentido de justiça.
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