Contrastes cubanos

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*                                                                                                        

23/03/2010

 

Yoani Sánchez está expondo as contradições cubanas na internet, por meio do site desdecuba.com/generaciony.  Sem a habitual linguagem bestificada dos admiradores de Fidel ela conta tudo sobre o que é viver na ilha caribenha, mais especificamente em Havana. Segundo diz, falta até papel higiênico para o povo e os alimentos são racionados.

Diferentemente dos turistas, que vão a Cuba para ouvir sua boa música e se hospedam em hotéis de luxo, o povão cubano vive como cachorro, com o devido respeito aos cães, que estão muito melhor. O “turismo de esquerda” é mais complacente com Fidel Castro, e agora com seu outro irmão louco, Raúl.

Dia desses, a magérrima e frágil Yoani foi barbarizada em plena rua de Havana por alguns simpatizantes do regime castrista. O motivo: ela participava de uma comemoração pelos vinte anos da queda do Muro de Berlim. Aliás, Cuba e Coréia do Norte são dos poucos bastiões comunistas – os outros são Laos, Vietnã e China – a sobreviverem depois do episódio de 1989, que jogou por terra o sonho maluco de transformar o mundo num covil comunista. Gorbachev, o líder soviético à época, colocou um basta nesse delírio.


Mesmo com o fim da União Soviética, que apoiava tais regimes em vários países, o comunismo sobrevive como desejo de buscar o “mundo perfeito”, a utopia, segundo o historiador Richard Pipes, autor de O comunismo. Contudo, para ele “a prática não consegue seguir o modelo sem restrição de liberdades, o que acaba fazendo o sistema não funcionar”. E a diferença básica entre comunismo e socialismo é que este pode se encaixar em democracias, ao contrário daquele, que opta pela igualdade social em detrimento da liberdade.  

Grosso modo, o grande problema do comunismo é impedir que as pessoas possam adquirir bens, ficar ricas e, portanto, mais felizes. A ideia de que é possível viver em estado de graça com poucos quilos de batatas por mês, locomovendo-se em carroças velhas e sem o direito de ler livros, jornais e revistas que não sejam do governo, só passa pela cabeça de quem vive longe de um lugar desses e alimenta uma utopia ultrapassada. Pergunte aos que vivem lá e a resposta da grande maioria será como as de Yoani.

A crença de que dinheiro não traz felicidade é tanto mais difundida em locais onde as possibilidades de riqueza são mínimas ou nenhuma. É uma forma de escape, subterfúgio, desculpa. Ademais, num lugar onde falta até papel higiênico não se pode dizer que alguém seja feliz. Ao retirar o dinheiro e a liberdade das pessoas, o comunismo retira-lhes também a esperança.          

Os chineses foram mais inteligentes. Mantêm-se politicamente comunistas, mas a sociedade usufrui de uma economia capitalista, onde se permite ganhar dinheiro. Na China não vigora uma democracia com todas as suas vantagens, mas lá as pessoas podem ficar ricas e, efetivamente ficam, já que não são poucos os bilionários da terra de Mao. É certo que existe muita desigualdade social no capitalismo, mas penso que ainda é preferível ser livre e com possibilidade de construir um patrimônio do que viver num lugar onde a igualdade se nivela por baixo, cujo lema é “pobreza para todos”.     

Enquanto isso, na ilha dos Castro uma mulher é espancada por ter cometido o imperdoável crime de pensar, contestar e mostrar o sofrimento de seu próprio povo. Yoani, no livro De Cuba, com carinho (Ed. Contexto), diz não se considerar opositora, nem mesmo dissidente. Afirma que é a história que vive todos os dias que se encarrega de negar o discurso oficial. E esclarece: “Para evitar endeusamentos e futuras crucificações, deixo claro em uma das páginas que o meu blog é um exercício pessoal de covardia: dizer na rede tudo aquilo que não me atrevo a expressar na vida real”.

É claro que o que ela faz é um grande exercício de coragem. E quando perguntada se gostaria de se mudar de Cuba, ela responde que, ao contrário, pretende mudar Cuba. E o meu desejo é que tenha sucesso.

 

E-mail: dibeleno@yahoo.com.br

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires  advogado, membro das Academias Palmense, Dianopolina e Tocantinense Maçônica de Letras.  

 

       

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