A cumplicidade do eleitor
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
10/06/2010
No dia 21 de abril, quando se comemorou os 50 anos de Brasília, toda a mídia reservou espaços para homenagear a nossa capital. Isso é absolutamente compreensível, afinal, queiram ou não, ela é o centro administrativo e político do país, onde as coisas acontecem. Aliás, acontecem até demais.
Porém, um único ponto me parece equivocado. Em muitas emissoras de televisão, observei que os apresentadores faziam questão de dizer que o brasiliense não pode ser responsabilizado pelos desmandos e corrupção que acontecem ali. Pois eu acho que grande parte tem, sim, culpa no cartório. Um povo que elege e reelege um Joaquim Roriz não pode ficar impune. A ninguém é dado errar tantas vezes seguidas, de forma quase ininterrupta. E esse mesmo povo também perdoou Arruda, que já tinha demonstrado fraqueza de caráter quando burlou o painel eletrônico do senado. Deu no que deu.
Por óbvio que não é apenas Brasília que possui eleitores dessa estirpe. Isso é quase regra no Brasil. O paulista produziu Maluf; o baiano, ACM; o paraense, Jader Barbalho; o maranhense, Sarney; o alagoano, Renan Calheiros e Collor; o fluminense, Garotinho. Todos comprovados meliantes políticos. Mas Brasília é nossa capital, de onde se espera os melhores exemplos. Também foi eleito lá o primeiro senador da República preso (Luiz Estevão).
Roriz é o típico político brasileiro, daqueles que o povão adora reverenciar, afinal é a cara do eleitor médio: mal educado, desprovido de cultura e assassino do vernáculo. É daqueles que fazem apologia da ignorância, como o presidente Lula, que se orgulha de não ter estudado e, mesmo assim, não foi impedido de chegar ao mais alto posto político do país. O nosso chefe maior deveria se envergonhar e desculpar-se com a nação por ter preferido o ócio não criativo.
Sua mãe, que nasceu analfabeta (como todas as demais), ficaria certamente feliz em ver seu filho diplomado (como todas as mães). Se tivesse boa vontade, Lula estaria hoje cursando uma faculdade, embora tenha tido tempo de sobra para se formar, na época em que era apenas presidente de honra do PT ou quando não tinha mais nada para fazer a não ser organizar piquete em porta de fábrica.
Há certa ojeriza da população com relação aos intelectuais. No Brasil, esse tipo de gente é vítima de preconceito. Acho que isso é consequência da baixa autoestima da maioria do povo, um indisfarçável complexo de inferioridade. Quando Lula despreza o plural ou diz “azelite”, ou comete uma das inúmeras gafes corriqueiras, atrai para si a simpatia generalizada, o olhar de candura do semi-analfabeto e a emoção da dona de casa que abandonou os estudos para se casar.
Quando Joaquim Roriz alardeia o seu “nóis vai” ou “nóis foi”, o eleitor débil entra em quase estado de êxtase, enxergando nele o seu retrato. Quando se trata de política, o povo é sempre cúmplice. O Congresso Nacional está cheio de bandidos e corruptos porque é a cara da nossa sociedade; ela está muito bem representada tanto no senado quanto na câmara. Esses líderes irresponsáveis fazem com a nação o que praticam nas sacristias os padres pedófilos.
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