Altas habilidades
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
10/06/2010
No Brasil, como se sabe, é pouco o incentivo que os dotados de altas habilidades recebem do Poder Público, cujos representantes quase sempre estão muito mais preocupados em aparecer por meio da construção de praças e outras obras que agradem os olhos do povo. Talvez por isso inúmeras cidades não disponham de rede de esgoto, que fica debaixo da terra e não pode ser vista pelo eleitor.
Soa paradoxal que o Brasil, detentor de uma economia pujante, careça de serviços que países de primeiro mundo já usufruíam no longínquo século XIX. Assim, fica fácil perceber que o incentivo à pesquisa científica não é prioritário nos programas de governo. São poucos os cientistas nacionais de renome internacional. Entre os mais notáveis, pode-se citar o físico Marcelo Gleiser e o médico Miguel Nicolelis, que são hoje os mais conhecidos e respeitados brasileiros na área da ciência, em âmbito mundial.
Outro que certamente prestará grandes serviços é Sérgio Wermuth, que no ano de 2005 ganhou o prêmio na área de computação na Feira de Ciências da Universidade de São Paulo (FEBRACE) e representou o Brasil no Congresso da Intel em Phoenix (USA). No ano de 2006, juntamente com outras cinco pessoas, mais uma vez levou o nome de seu país à Conferência Internacional de Jovens Cientistas em Stuttgart, Alemanha. Selecionado pelo Ministério da Educação por ter sido vencedor de um concurso de redação, foi premiado com a participação numa viagem pela Amazônia na companhia de outros cientistas e professores. No ano de 2007, participou do II Encontro do Conselho Brasileiro de Superdotação, tendo iniciado estágio no Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN).
O talento de Sérgio Luiz Wermuth Figueras foi detectado desde cedo, quando, com apenas 16 anos de idade, criou um sistema de reconhecimento de voz baseado em redes neurais artificiais, que auxilia os portadores de LER (lesão por esforço repetitivo). Com isso, ganhou três prêmios na Feira da USP, ficando em primeiro lugar nas categorias criatividade, inovação e excelência em computação, o que o credenciou a representar o Brasil na maior feira de ciências do mundo, no Arizona, EUA.
Como reconhecimento, foi premiado com uma bolsa de estudos de Física avançada pela USP e outra pelo ITA, além de uma proposta para estudar na França, mas preferiu se inscrever no IINN. Por tudo isso, Sérgio é considerado, inclusive por Miguel Nicolelis, um talento inquestionável. Hoje ele mora em Brasília e labuta na área de elaboração de softwares, de onde provavelmente partirá para o “Vale do Silício”, na Califórnia.
Se você acha que tudo isso é pouco, deve estar se questionando: “Sim, e daí?” Daí que ele foi criado no meio de nós, vindo a morar em Palmas com apenas 3 anos de idade. Iniciou os estudos no Centro Educacional Martinho Lutero, cursou os dois primeiros anos do ensino médio no Colégio Estadual Dom Alano e o terceiro no Centro Educacional de Ensino Médio, tudo aqui na capital.
Outro dia fui ao Escritório 2 (Bar do Luiz), aqui em Palmas, e conheci um sujeito muito simpático. Enquanto eu molhava a palavra degustando uma boa cerveja, ele me contou sobre o Sérgio, que nasceu no Rio de Janeiro e se tornou tudo isso que acima se disse. Nem é preciso dizer que ele é motivo de orgulho para a professora Monique Wermuth Figueras, sua mãe, e o desenhista Cláudio Figueras, seu pai, o meu companheiro de bar. E são eles os responsáveis por proporcionarem as oportunidades que foram abertas ao filho.
Se você, leitor, ficou impressionado com o currículo do Sérgio Wermuth, advirto-o que ele conta com apenas 21 anos de idade, portanto ainda tem muito a oferecer. O talento está aí, à solta, pedindo para ser encontrado, explorado e reconhecido. Palmas e demais cidades do Brasil, certamente, possuem outros Sérgios, mas falta o necessário incentivo para que cresçam, contribuam e retribuam ao país todo o investimento, por meio de algo que não tem preço: as descobertas científicas.
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