Sexo na sacristia

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*                                                                                                        

10/06/2010

                                                    

Apesar de todo o barulho, há um silêncio constrangedor com relação aos desmandos sexuais cometidos por alguns padres da Igreja Católica. Esse grunhido de vergonha parte principalmente dos fiéis, que não conseguem nem pensar numa Igreja que possibilita o inferno, este que é uma ficção criada pela própria religião, com o propósito de aterrorizar os crentes, atraindo-os para suas hostes.

Mas a Instituição que se propõe a ser a salvadora de almas no mundo, não poderia, jamais, permitir que psicopatas e desajustados permanecessem sob suas ordens. E o que pesa sobre essa crise – considerada a maior já sofrida pelo catolicismo na era moderna – é justamente a leniência, o fechar d’olhos para o assunto.

O papa Bento está sendo acusado, dentre outras coisas mais, de ser omisso com relação ao caso de um monstro que abusava de crianças surdas (surdas!) num orfanato na Irlanda. Conta-se que quando ainda era apenas um cardeal, Ratzinger, embora sabendo de tudo, teria simplesmente feito vista grossa para o assunto e deixado o diabo atuar durante anos sem qualquer punição ou advertência.

Se isso for verdade, Bento XVI precisa ser imediatamente preso. E nem pensem que estou exagerando! Como pode não haver punição para esses primatas que abusam de crianças? A Igreja tem se limitado apenas a pedir desculpas. Outro dia XVI chorou ao ouvir o depoimento de algumas vítimas. E daí? É o suficiente? Se ele for inocente – e terá o direito de provar isso – será muito bom para todos. Espera-se que ele não seja culpado, afinal ninguém em sã consciência deseja que haja conivência de um papa com tais horrores.  

Penso que não devemos ser precipitados ao ponto de condenar a Igreja simplesmente por haver padres pedófilos e maníacos sexuais em seus quadros. Na verdade, muitos desses párocos acusados são apenas homossexuais ou heterossexuais tarados. De certa forma a Igreja também é vítima, já que não se sabe de padres que se tornam pedófilos, mas de pedófilos que se tornam padres, usufruindo de toda a estrutura milenar da Católica, que goza do respeito e aprovação de grande parcela da sociedade brasileira e do mundo. Há lugar melhor para um desajustado desses do que a tranquilidade da sacristia? O padre, principalmente nas cidades do interior, é detentor da mais pura e plena consideração, o que lhe permite adentrar os lares e as escolas, mantendo contato permanente com crianças, oportunidade em que muitos se aproveitam para colocar em prática seus instintos bestiais.  

De outro lado, há sempre a questão do celibato. A Igreja insiste em dizer que esse é um assunto que não interfere na postura dos seus representantes. Ora, como controlar um sujeito que é impedido de fazer sexo? Eles dizem que a culpa é do homossexualismo. Ou seja, só comete esses desvios sexuais, na visão da Igreja, quem é gay. Mas nós sabemos que existem inúmeros filhos de padres espalhados por aí, embora esses heterossexuais não sejam censurados por “fazerem amor” com suas beatas. A Igreja é machista. Se o ato libidinoso é praticado com uma mulher, é aceitável e estamos diante de uma transgressão menor, afinal a carne é fraca.

A pedofilia, segundo o Vaticano, é culpa dos homossexuais que estão infestando suas entranhas. Se a Igreja se preocupasse apenas em punir todos esses criminosos, o mundo entenderia, já que nenhuma instituição está isenta de ser atacada por atitudes ilícitas de seus colaboradores. O que não dá para entender é o fato de ela tentar acobertar os escândalos, punindo ainda mais as vítimas em nome da preservação de sua própria imagem. Para quem já queimou pessoas vivas, tal postura é compreensível.

Esse negócio de proibir o sexo – seja ele homo ou hétero – não funciona. Para a Igreja o padre não pode se casar, mas nós estamos cansados de saber que isso não o impede de transar. Por óbvio, se ele for homossexual, sua preferência será por outro homem; se for heterossexual, preferirá uma mulher. Alguém pode dizer: e quem disse que o casamento é arma contra a transgressão sexual? De fato, não é. No caso, entendo que o melhor para a Igreja seria deixar o padre optar pelo casamento ou celibato.

Em muitos lugares já se permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isso quer dizer que alguém que seja padre nesses locais poderia se casar com outro homem, ou até mesmo com outro padre? Para a Igreja não, porque ela condena o homossexualismo. A se permitir isso, estaria revendo os seus próprios dogmas. É claro que a Igreja tem o direito de criar suas regras, mas o grande problema é que o celibato vai de encontro à natureza humana. Melhor seria se ela liberasse os vigários para que optassem por aquilo que lhes dessem maior prazer, punindo as eventuais ilicitudes. O fato de um homem adulto fazer sexo com uma mulher ou com outro homem não é crime, desde que haja consentimento; o que não se permite é a relação sexual com criança. Em outras palavras, a Igreja deveria se concentrar em punir os padres pedófilos, tendo em vista que ao proibir as relações carnais, está a punir, na verdade, o amor e o sexo.

 

E-mail: dibeleno@yahoo.com.br

*Dídimo Heleno Póvoa Aires  advogado, membro das Academias Palmense, Dianopolina e Tocantinense Maçônica de Letras.  

       

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