Governo para pobres e ricos
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
22/08/2010
Se Lula perder a eleição é culpa da classe média. Sim, embora seja Dilma a candidata, sabe-se que ela apenas empresta o seu rosto ao PT. Quem está por trás de tudo é a onipresença de Luiz Inácio, com o seu indiscutível carisma, capaz de arregimentar votos por todos os rincões do Brasil. E ele está em franca campanha, como não me deixam mentir as multas do TSE.
Uma das manobras utilizadas pelos marqueteiros, quando o seu cliente não é bom de argumentos, é evitar ao máximo que este participe de debates. Ora, e como fica o eleitor? Isso é um direito nosso – o de poder saber o que pensa cada um dos que se aventuram a nos representar pelos próximos quatro anos. Outro dia, um debate que aconteceria na Internet foi cancelado, pois Dilma e Serra alegaram “agenda lotada” para se livrarem da missão, deixando Marina Silva a ver navios. Esta reclamou do WO dos adversários, com razão.
A afirmação do primeiro parágrafo, de que uma eventual derrota do governo seria creditada à classe média, tem como suporte a constatação de que os brasileiros inseridos nessa categoria foram simplesmente abandonados. Lula e o PT governam para pobres e ricos. Muitos miseráveis saíram dessa condição, é preciso reconhecer. Mas eles, em sua grande maioria, se contentam com um prato de arroz e feijão, razão pela qual se torna bem mais fácil agradá-los. “As elite” é a classe média.
O programa Bolsa Família, em sua essência, é ótimo: exige que os pais coloquem as crianças para estudar em troca de uma pensão mensal. Ficaria ainda melhor se nossas escolas públicas tivessem qualidade. De nada adianta as crianças frequentarem uma sala de aula onde o professor faz de conta que ensina e elas, que aprendem.
Por outro lado, nunca na história deste país banqueiros ganharam tanto dinheiro. Os lucros dos bancos são os maiores de todos os tempos. Numa entrevista concedida a Boris Casoy, antes de seu primeiro mandato, Lula garantiu que os donos de bancos pagariam impostos, acabando de vez com esse privilégio vergonhoso. Como se sabe, eles continuam na mesma e cada dia mais ricos.
No meio disso tudo, a sofrida classe média vive aos trancos e barrancos. Os bancos costumam emprestar dinheiro apenas para quem tem garantias polpudas a oferecer. Ora, se o sujeito necessita de grana para montar um negócio, soa sem sentido imaginar que ele possua bens que garantam a dívida. Se fosse assim, sequer estaria a pedir dinheiro.
Os pobres estão melhorando de vida, mas continuam analfabetos. Daqui a pouco nos transformaremos numa nação bem alimentada, porém imbecilizada. A tendência é que o Brasil possua duas classes, uma formada pelos pobres (a maior parte), e outra por ricos. Se a classe média espoliada resolver tirar isso em pratos limpos, a coisa pode se complicar para o governo. O problema é que eles são espertos o suficiente para saber que a grande massa popular é formada por ex-famintos, aqueles que recebem ajuda do governo e mantêm seus filhos na escola, lugar que frenquentam muito mais para garantir o lanche do dia do que para aprender alguma coisa.
A maior parte dos impostos recai sobre o salário. No Brasil o pobre recebe esmola, a classe média salário e o rico ganha cada vez mais dinheiro. Portanto, é a classe média quem sustenta a migalha do pobre e a fartura do rico. Quando dizem que o país melhorou, pode acreditar, é verdade. Só não se esqueça de que está melhor porque era péssimo, mas ainda falta muito para se tornar razoável.
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