Os horrores de Darfur

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*                                                                                                        

22/08/2010

                                                    

 

Dos horrores da humanidade, talvez um dos mais famosos seja o Holocausto, a dizimação dos judeus pelos nazistas a comando de Hitler, durante a II Guerra. Mas há outros menos conhecidos e tão atrozes quanto. O problema é que quando se fala em “direitos humanos”, as grandes nações, respaldadas pela ONU, se preocupam mais com as atrocidades – digamos assim – que lhes rendam maiores dividendos. Qual a importância se os que estão sendo mortos são negros, miseráveis e vivem num longínquo país africano? Esses humanos não gozam dos mesmos direitos ocidentais. A Copa do Mundo aconteceu recentemente naquele continente e nada se falou a respeito. Lula, que adora ditadores africanos, também nada diz sobre os crimes de Darfur.  

Também não se vê defensores e grupos pacifistas, ditos “humanistas”, lutando em prol da causa de Darfur, assim como nada se ouviu a respeito dos horrores cometidos pelo Rei Leopoldo, da Bélgica, contra os congoleses, ainda no início do século passado. Em Ruanda, tutsis e hutus se trucidaram com facões e boa parte do mundo sequer ficou sabendo. São questões tratadas como problemas dos africanos, “esses seres medievais”.

Muitos leitores certamente estão se perguntando onde fica e o que é Darfur. Trata-se de uma região localizada no oeste do Sudão, um dos maiores países da África. Lá, os janjaweeds (em árabe, “diabos a cavalo”), milícia recrutada pelo governo, têm a missão de dizimar todos os não-árabes que encontrarem pela frente. As estatísticas mais otimistas falam em torno de 700 mil mortos, entre crianças, idosos e mulheres. Estas últimas são também vítimas de estupros, pois eles consideram uma forma eficaz de desestruturar culturas, disseminando seus genes entre os povos inimigos.  

O mais intrigante é que, mesmo com esse número de mortos, a ONU insiste em não aceitar que se trata de um genocídio, embora os EUA já tenham dito que o que lá acontece é uma limpeza étnica. Claro que por trás disso tudo existe a questão religiosa. Os árabes da região, embora tenham a pele escura, não se consideram negros e se acham no direito de matar todo aquele que professe uma fé que não a sua. A maioria desses não-árabes é cristã, numa espécie de Cruzada ao inverso, mas sem o glamour da original.

Enquanto você lê este texto centenas de crianças morrem em Darfur, por conta dos assassinatos, da fome e das doenças. A ONU já passou quatro meses discutindo se o que acontece naquela região é, ou não, genocídio. Os EUA passaram a bola para o Conselho de Segurança e este, até agora, nada fez de concreto. E não fez porque China e Rússia, dois países que têm poder de veto no Conselho, não se interessam pelo assunto, já que dependem do petróleo do Sudão e não é politicamente vantajoso contrariar aquele governo, mesmo que ele financie uma das maiores atrocidades dos últimos tempos. 

Darfur é uma vergonha para a humanidade. É, mais do que tudo, a constatação de que nosso mundo é governado unicamente pelo poder e riqueza. Os pobres miseráveis darfurianos, que são mortos como moscas, nada representam neste celeiro de hipocrisia, leviandade e cinismo. Muitos dos homens que pregam a paz, que falam em misericórdia e tolerância, que se elegem como representantes de uma divindade e que até poderiam fazer alguma coisa, estão muito mais preocupados em alimentar seus próprios rebanhos com a ilusão de que somos todos iguais num mundo incrivelmente desigual.   

                                                                                                                 

 

E-mail: dibeleno@yahoo.com.br

*Dídimo Heleno Póvoa Aires  advogado, membro das Academias Palmense, Dianopolina e Tocantinense Maçônica de Letras.  

 

       

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