PERGUNTA
INCONVENIENTE
Dídimo Heleno Póvoa Aires
04/07/2003
Um sujeito lá de minha terra,
portador de doença mental, é
o que se pode chamar de bom homem. Solteirão, vive uma vida tranqüila,
calma, sem incomodar ninguém. Caladão, costuma conversar apenas quando
lhe dirigem a palavra. Se o interlocutor despertar alguma empatia, a
prosa pode durar horas, com sua inteligência
capaz de discutir sobre os mais diversos assuntos.
O
fato é que precisa tomar alguns remédios controlados, para que
mantenha a calma e serenidade peculiares. Há muitos anos, quando ainda
era mais moço, às vezes teimava em não tomar as tais drogas, o que o
deixava nervoso e inquieto. Porém, nunca foi de ficar violento.
Numa
tarde, andava ele pelas ruas de Dianópolis, quando encontrou alguns
senhores conversando sobre política e pecuária, em frente à Loja Póvoa.
Chegou de mansinho, com os braços cruzados atrás das costas e,
imperceptivelmente, tomou parte na rodada de amigos.
Num
dado momento, olhou para um dos interlocutores e, com a maior
naturalidade, perguntou: - Fulano, sua mulher tem cabelo no cu? O
sujeito arregalou os olhos de incredulidade e quis agredi-lo, quando foi
impedido por alguém que explicou tratar-se de uma pessoa que sofria de
problemas mentais.
Como
se nada tivesse acontecido, saiu andando calmamente, assobiando
“Rosa”, de Pixinguinha.
*Dídimo
Heleno Póvoa Aires é Advogado e Escritor