ASSUNTOS POLÊMICOS

                                     

 Dídimo Heleno Póvoa Aires*

25/07/2003

 

Religião, assim como futebol e política, são assuntos sempre delicados, pois ferem suscetibilidades, afloram paixões, mexem com o brio das pessoas, causam furor e são capazes de tirar do sério o mais recatado dos seres.

 

A religião, ironicamente, é responsável por batalhas infindáveis no Oriente Médio, onde cristãos, judeus e muçulmanos se digladiam em nome da fé. Falar em religião requer cautela, uma vez que o seu interlocutor pode ser um fanático, um ardente devoto, seguidor incondicional da fé cristã. Ou pode ser ateu, céptico, descrente ou herege e, nessa condição, não suporta qualquer assunto religioso.

 

Paradoxalmente, são assuntos que sempre estão presentes em qualquer diálogo ou embate que se trave. Os mais comedidos procuram concordar sempre, afim de não causar nenhuma desavença. Outros, gostam do assunto justamente por ser polêmico.

 

Política é um assunto agradável, quando os interlocutores possuem a mesma ideologia e o mesmo partido. Fora disso, é briga certa. Seguidor de Lula não engole admirador de Fernando Henrique e vice-versa.

 

No futebol, paixão nacional, não é diferente. Torcedores fanáticos se transformam em bestas feras quando seu time é alvo de chacotas e humilhações. Flamenguistas, vascaínos, palmeirenses e corintianos se transformam em verdadeiros rivais em dia de jogo, capazes até mesmo de se agredirem fisicamente.

 

Alfredo, proprietário de um bar, no intuito de evitar brigas naquele ambiente, proibiu que os freqüentadores falassem sobre religião, futebol ou política. Numa sexta-feira após o expediente, um sujeito chegou sedento, pediu uma cerveja e foi logo dizendo:  - Vocês ficaram sabendo que o Papa poderá vir novamente ao Brasil? Imediatamente, o homem foi interrompido: - Por favor, aqui nós não aceitamos assuntos de religião.

 

O sujeito continuou tomando sua cerveja e numa segunda tentativa de puxar papo, exclamou: - E aí, o que vocês acharam do posicionamento de Lula em relação aos produtores rurais? Novamente, ouviu a seguinte advertência: - Assuntos políticos também não são aceitos neste bar.

 

Atordoado e sem outras opções, o sujeito fez uma nova tentativa, na esperança de conseguir travar um diálogo qualquer: - Que golaço, aquele do Ronaldinho Gaúcho, hein? Após um rápido silêncio sepulcral, alguém retrucou: - Futebol, aqui, nem pensar!

 

Enfezado, o sujeito perdeu a linha e disse: - E sexo? Pode falar disso nesse bar? Ouviu-se um coro: - Claro, de sexo pode! Com um dedo esticado e os que o ladeiam encolhidos, o sujeito encheu a boca para vociferar: - Então, vão todos tomar no c...! 

 

Essa anedota mostra o quanto esses assuntos são polêmicos, pois mesmo sem estarem em discussão são capazes de causar animosidade. Portanto, é preciso conhecer bem o seu interlocutor, antes de arriscar falar em religião, política ou futebol.

 

  *Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado e escritor

 

 

       

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