A IMPORTÂNCIA DO ELOGIO

 

 

Dídimo Heleno Póvoa Aires *

 19/08/2003

 

Tasso, que não é o Jereissati, batizou a minha mãe e mora em Salvador, na Bahia. Outro dia, inesperadamente, recebi um telefonema seu. Era para elogiar o livro Artigos e Crônicas, que lancei recentemente. Primeiro, fiquei surpreso e verdadeiramente lisonjeado com as palavras de carinho e a cordialidade dispensada por quem nem sequer conhecia pessoalmente. Segundo, porque não é todo dia que se escuta elogios desse tipo. Principalmente por telefone e ainda por cima interurbano.

 

Com o meu ego devidamente massageado, após uma conversa cortês e gostosa com um senhor que tem idade para ser meu pai (palavras do próprio Tasso), descobri a importância do elogio. Naquele dia, até receber o telefonema, estava meio jururu, sem graça, um pouco triste. Bastou algumas palavras vindas lá da Bahia e pronto. É como se acabasse de ser injetada no meu sangue uma dose cavalar de serotonina, aquela substância que nos dá felicidade. Ser elogiado é como acabar de comer uma barra de chocolate, é o Prozac homeopático. 

 

E Tasso contou-me uma história: disse ele que quando ainda morava em Brasília, praticando brilhantemente sua odontologia, freqüentava um barzinho que ficava no caminho entre sua casa e o consultório. Todas as tardes sempre parava por ali para degustar uma cerveja gelada. Com o tempo, tornou-se freguês assíduo e cativo, nascendo daí uma amizade com o Roberto, garçom que o servia com um sorriso largo no rosto.

 

Num dia, depois de tomar de um só gole a refrescante bebida, Tasso fez o seguinte comentário: “- Esta cerveja está uma maravilha!”. Roberto arregalou os olhos de espanto, não acreditando no que acabava de ouvir e disse: “- Não acredito! Depois de tantos anos nesse ramo, é a primeira vez que alguém me diz que a cerveja está uma maravilha. Sempre escuto que ela está quente, que está gelada demais ou que está choca. Mas que está uma maravilha, nunca ouvi”.     

 

E o espanto do Roberto tem razão de ser. O elogio é artigo raro nesses dias capitalistas em que vivemos e as pessoas não estão dispostas a perderem seu precioso tempo elogiando os outros. As palavras mais comuns são sempre para ferir, para agredir, para humilhar, para fazer sofrer.

 

 Para alguns, custa muito dizer uma palavrinha de incentivo, um aperto de mão sincero, um abraço caloroso ou um comentário simpático. É mais fácil fazer vista grossa para a vida do próximo, com aquele ar de indiferença, com aquela cara de amigos-amigos-negócios-à-parte. Sorte minha e do Roberto é que ainda existem pessoas como o Tasso.

 

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires é advogado e escritor.

 

       

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