LIÇÃO DA CORUJA E OUTRO PÁSSARO

 

José Cândido Póvoa*  (jcpovoa@hotmail.com)

26/06/2005

  

                         Num  desses feriados prolongados, quando projetamos belos descansos em virtude da folga no trabalho, (os feriados sempre passam mais depressa do que esperamos), resolvemos visitar  nossos sobrinhos em Brasília, que residem numa aprazível mansão às margens sul do Lago Paranoá e é cercada por uma  imensa e gostosa área verde. Todos os dias ao entardecer, estávamos ao lado da piscina, sempre num ponto estratégico, degustando uma saborosa cerveja e apreciando o multicor crepúsculo da capital federal, por sinal, um dos mais belos já vistos, e muito parecido com os de Palmas, embora contemos com alguns atrativos a mais: nosso imenso e belo lago e a imponente Serra do Carmo. Envolvido com a paisagem e com os aviões que cruzavam o céu, num tal de levar e trazer pessoas carregando ilusões e desilusões, observávamos, também, bandos de bem-te-vis, pássaros pretos, periquitos, quero-queros, sabiás e outras espécies menos conhecidas, despedindo-se do dia e procurando os seus ninhos nas belas mangueiras, pequizeiros, sucupiras e palmeiras imperiais que nos cercavam. Quando nos  chama a atenção uma coruja pousada num pequeno poste. Impassível, compenetrada e circunspecta, fazendo transparecer seus dons de paciência, tolerância e observação. Um pequeno pássaro, lépido e de vôo insinuante , como a provocar a coruja, consultava sua bússola orientadora, calculava altitude, longitude, tomava uma considerável distância, marcava com precisão o  alvo, colocava-o na linha de ataque, partia executando vôos rasantes sobre a impassível  ave estrigiforme  Afastava-se, preparava-se para novo ataque. Por diversas vezes assim o fez. Determinado momento, já depois de muitas provocações, a pequeno ave tomou uma distância bem mais considerável, preparando-se para mais um rasante perturbador daquela paz de  mestra. Naquele lapso de tempo, sorrateiramente a coruja deslocou-se para  um arbusto, um jasmineiro recém plantado,  com  meio metro de altura no máximo e  agasalhou-se sob sua folhagem larga e espatulada.  O atacante indesejável, meio desorientado e desapontado, procurou por toda parte e não encontrando a sua vítima, voou para bem distante, talvez a procura de outro a ser incomodado. Restou-nos uma lição:  sejamos sempre como a coruja, que  compreendendo as  limitações e provocações  do seu agressor, bem como entendendo a sua fraqueza, limitou-se a afastar-se  e procurar um recanto seguro para sua introspecção e aprofundamento da sua  paciência e tolerância.

 

*José Cândido Póvoa – Advogado e poeta –

 

       

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