A VITÓRIA DO BEIJO

 

José Cândido Póvoa*  (jcpovoa@hotmail.com)

09/07/2005

 

            Acabo de ler a seguinte matéria no jornal O Popular: “Beijo roubado não é crime. Beijo roubado não caracteriza crime de atentado violento ao pudor. Ao contrário, o ato deve ser encarado como contravenção penal, a ser julgada pelos Juizados Especiais Criminais.” Este foi o entendimento do Tribunal de Justiça de Goiás, ao apreciar processo de uma comarca do interior, no qual o pastor de uma igreja local é acusado de ter beijado na boca a filha de um fiel. E acrescente, ainda, “que o Ministério Público denunciou o pastor por o mesmo ter ido à cada da vítima e depois de observar a jovem varrendo o local, avançou sobre ela lhe deu um beijo na boca. Foi absolvido no juízo de primeiro grau, mas o Ministério Público recorreu, chegando o processo ao Tribunal de Justiça.” Relator do processo, um sábio Desembargador concluiu que não há dúvidas sobre a ocorrência do beijo. A divergência se assentava no fato da interpretação da gravidade da atitude, que caracterizava ou não a libidinosidade do acusado, pois até a pretensa ofendida(?) atenuou a acusação, esclarecendo que não fora beijo na boca, mas apenas um simples toque nos lábios. Na opinião do Magistrado, o pastor já havia sido punido pelo seu ato, quando a igreja o suspendeu das funções, devolvendo-a quando o mesmo foi inocentado. Ponderou que o pastor “roubou” um beijo da adolescente. “Censurável a conduta, mas não na dosimetria acenada pelo rigorismo do Ministério Público”. Por isso, decidiu pela desclassificação do delito para contravenção penal e determinação que o processo seja encaminhado aos Juizados Especiais Criminais.” E aí me pego a meditar e fazer conjecturas, tais como: ah se todos os crimes e absurdos que ocorrem no dia a dia do nosso país tivessem a gravidade de um beijo roubado. Se todas contravenções penais fossem cometidas num beijo roubado. Se todas as vítimas fossem apenas vítimas de beijos assim. Se todos julgadores se revestissem da toga do amor e compreendessem a angústia que perpassa no coração e na alma de todos brasileiros. Se toda violência urbana se transformassem em beijos roubados. Mesmo porque  o beijo é inerente a todos os seres vivos, em especial dos sonhadores e que sabem amar de verdade  e,  principalmente, no fato de que se o beijo já  é tão bom, roubado então, é melhor ainda. Entoemos então um cântico para mais uma vitória do beijo, o símbolo e a expressão maior do amor!

*José Cândido Póvoa – Advogado e poeta –

 

       

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