Mãos

Gesimário de França Carvalho*

Minhas mãos são julgadas
por cada aceno e cada recolhimento.
Minhas luvas, meus frios.
Meus incertos traçados
nos mapas e nas palmas
confundindo os caminhos do sol
entrepostos na alma.
Minhas mãos são cálidas, compassivas.
Se a caldeira crepita
carbonizando as culpas transferidas
no risco das curvas,
minhas mãos são turvas,
quando não são concisas ou coniventes.
Ou são presentes, ressentidas,
quando não trazem o mesmo tato
das carícias esquecidas.
Minhas mãos são subjugadas
sendo ameno ou desfalecido.
Abertas em tentativa desusada
de serem contemplativas,
minhas mãos são missivas.
Maceram-se sendo servas de servir
à sorte do silêncio:
silentes, condoídas.
Desnecessários calos
que denunciam a lida.
Minhas mãos são vãos
entre sins e nãos
da sorte combatida.
Elas são plantas , eu sei.
Minhas mãos são tantas:
entontecidas ou não.
Endoidecidas , trêmulas.
Fabrico algo de crível
do invisível das coisas efêmeras.
Minhas mãos crucificam
ou alojam cravos
que nem se imaginam
fixando a eternidade.
Delatam, quando sou humano,
e se retraem, prontas,
procurando água e isenção.

 

*Poeta e Professor

       

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