Noturno
Gesimário de França Carvalho*
São três horas,
talvez quatro, quem sabe
- a madrugada é inexata como o fato.
A cidade é míope,
a esquina, surda como porta;
a avenida, mão-dupla, é hemiplégica,
inerte como a sorte furtada.
Que a morte fuja, quem se importa?!
A rua suja consome toda prova.
Até que por fim,
ruidosa, ruinosa, arruinada,
a cidade desperte aparvalhada.
Condená-la, quem há-de?
*Poeta e Professor