Noites

Gesimário de França Carvalho*

De quantas cores brilha
o coração da noite?
Da noite possuída
da noite abandonada
da noite revivida
da noite desejada.
Da noite marcada de beijos
que não cabe em si de desejos.
Desta, resoluta, impudica,
pública, revolvida,
estendida, sem drama,
sem mistério;
povoada de segredo
e de notícia,
consumida de medo
e de malícia.
De quantas cores brilha o coração?
Do que nega o sim,
do que acolhe o não.
Do que rasga o fim
da lição.
Da lição que nasce
onde morre os olhos.
Onde não penetra senão
os cheiros diversos da alma:
almas dolorosas, doloridas;
almas compungidas, generosas;
almas semi-mortas,
semi-vidas.
De quantas cores brilham
as pedras sem trilhas
os prédios sem telhas
as tais armadilhas
das noites velhas?

 

*Poeta e Professor

       

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