DIANOPOLINOS OU DIANOPOLITANOS?

 

ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO*

 

24/05/09

 

                                      A bem da verdade, diversos nomes já recebeu a atual Dianópolis, no sudeste do Tocantins. Desde Villa do Duro, São José do Duro, São José D´ouro, sem embargo dos codinomes Duro, Terrinha, Princesa do Sudeste do Tocantins, e por fim, Terra das Dianas, em homenagem às filhas do lugar, nominadas Diana Wolney, Póvoa, Costa e Rodrigues.

                                       De uns tempos para cá, surgiram dúvidas acerca do adjetivo gentílico, em relação àqueles nascidos no Lugar. Certamente, incumbência mais apropriada dar-se-ia aos notáveis lingüistas e historiadores da polis. No entanto, com o propósito de tentar esclarecer inúmeras controvérsias sobre temática, mesmo não sendo exímio conhecedor da área, atrevo-me, na condição de filho da Terra, expor as conclusões alcançadas, em estudos, impressões pessoais, através de consideráveis compilações.

                                       O foco da dúvida nos parece centrar nos sufixos latinos “ANO” e “INO”, que se agregam ao radical do vocábulo “DIANA”, criando, assim, os adjetivos pátrios ou gentílicos DIANOPOLITANO e DIANOPOLINO. Ora, difícil é, a essa altura, mas não impossível, após tantos anos de sedimentação das idéias, esclarecer a imposição, escolha, ou a pacificação do adjetivo utilizado até hoje.

                                       É bom lembrar que os vocábulos da língua portuguesa, pronunciados no Brasil, e também no Tocantins, são frutos da junção e associação de prefixos, sufixos, de origem latina, grega, romana, arábica, sem prejuízo das expressões indígenas. Talvez, por isso, fosse importante conhecer a origem da palavra, analisando o seu processo de formação, para que daí pudéssemos implementar as flexões necessárias no léxico, fazendo sintonia aos regramentos implementados na origem de outros vocábulos, como o mesmo processo de formação.

                                       Impende salientar que o sufixo latino “INO” tem a conotação simplória de semelhança, similitude. Ao passo  que o sufixo, também latino, “ANO” tem conotação de procedência, próprio, característico, adepto,  simpatizante, filiação e típico.

                                       Ora, não há dúvida que o povo dianopolitano é ímpar diante dos seus valores, características culturais, trejeitos e comportamentos. Portanto, não se adequa à idéia do sufixo latino “INO”, que significa, apenas, semelhança, similitude. Descarta-se, portanto, a expressão Dianopolino. Ao passo que se pode afirmar, que o povo do lugar, num bom gracejo, já nasce com pedigree, ou seja, com procedência consolidada. É inconfundível em suas próprias características de alegria, festa, perspicácia, inteligência. É adepto da boa música, poesia e literatura, sem embargo de ser simpatizante de qualquer manifestação cultural. Por isso, só um adjetivo pátrio ou gentílico agrega todas estas características, aquele acrescentado pelo sufixo latino, “ANO”, que dá origem ao vocábulo, DIANOPOLITANO, e pronto!

                                       Em se analisando a construção do vocábulo Dianópolis, recorremos ao velho e sábio professor Noronha, onde vimos que o seu processo de formação, se deu através da derivação sufixal. Ou seja, ao nome DIANA acrescentou-se o sufixo POLIS, de origem grega, que significa notável cidade. Ou seja, Dianópolis, cá pra nós, é capital do mundo, e não cidade comum. É cidade pólo, símbolo de cultura, tradição e beleza. Além disso, merece refletir, que a tendência de outros vocábulos, criados com a inclusão desse sufixo, têm flexionado, da seguinte forma: NÁPOLIS-NAPOLITANO; ACROPOLIS-ACROPOLITANO, INDIANÁPOLIS-INDIANAPOLITANO.

                                       De outro lado, nós, os Dianopolitanos, temos muito mais a ver com o baianês dos nossos vizinhos soteropoliTANOS, que o paulistanês dos são paulinos. Aliás, é melhor tentar corrigir agora, para não se cair, quem sabe, na eterna complexidade do mais desenvolvido Estado da Federação, que tenta rejeitar o adjetivo São Paulino, em nome daquele outro, Paulistano. E o pior, com a simples evasiva esdrúxula de que um seria para a capital e o outro para região litorânea. 

                                      Varrendo os quintais de um subconsciente, é fácil recordar  as  memoráveis  aulas  de Língua Portuguesa, ministradas

 no Colégio João D´Abreu, pelo saudoso Professor Carlos Alberto Wolney, que afirmava que o adjetivo correto seria DIANOPOLITANO, e não DIANOPOLINO, já que o primeiro citado soava melhor. Ou seja,  redargüir um catedrático de tantas gerações, revela-se, no mínimo, atrevimento injustificável. Até porque, em se tratando de correções ou acertos, sobre a pronúncia do idioma, na dúvida, deve-se recorrer a eufonia, adotando aquilo que soar melhor aos ouvidos. Conclui-se que o saudoso mestre sabia mesmo das coisas. Senão analisemos, na prática, o que soa melhor, em relação ao eterno vício cacofônico: eu a vi, ou, eu viela!                                   

                                      A questão não é tão simples assim, aliás, revela-se por demais tormentosa e desafiadora. O que fazer em relação a tantos registros já feitos, com o adjetivo pátrio acrescido do sufixo “INO”. Mais que isto, cabe refletir quem terá propriedade para modificar o que vinha sendo feito, de forma correta ou incorreta?

                                      Merece salientar que, em se analisando antigos dicionários da língua portuguesa, tais como o festejado, Aurélio, ver-se-á, que lá estava consignado, DIANOPOLITANO, e não DIANOPOLINO, como soa agora.

                                      Em esclarecimentos, nesta vertente, os Organizadores dos Dicionários justificam a inserção inovadora do adjetivo pátrio, em virtude de novas informações colhidas em documentos, órgãos públicos e repartições locais. Enfim, é lastimável que, entre as lições do saudoso professor, Carlos Alberto Wolney, que educou tantas gerações, houve um hiato, ou uma quebra de página, possibilitando que as gerações vindouras ignorassem, o que soava como belo aos ouvidos, para se adaptar a uma nova sonoridade, que, supomos, não esteja à grandeza e altura dos rebentos do local.

                                       Aliás, longe de se buscar o perfeccionismo, amiúde quando invariavelmente temos que fazer remissão ao regionalismo, que, não raras vezes, tem sido o escape, para justificar a eufonia aberta às vogais “É” e “Ó”, que deveriam, pela norma culta, serem pronunciadas de forma fechada. Mas, é sempre bom lembrar, que os trejeitos  sonoros,  identificadores do clã do lugar, soa muito bem, e até como gracejo, entre bares, encontros e lugares. No entanto, a pronúncia de vocábulos como, “tÉlevisão, rÉfrigerante, dentre outros, aos ouvidos de los otros hermanos, soa, no mínimo, de forma impiedosa. A fonoaudiologia tem sido muito amiga, neste particular.

                                       Noutra parte, não se sabe se detemos competência, para pleitear a instauração de um conselho ortográfico local, a fim de agregar ou repelir neologismo, articulado com fundamento no regionalismo, que exalta a mistura dos nossos bons Baianês e Tocantinês. Desta forma, apesar de sempre exaltar a importância, de qualquer mecanismo, que garanta a comunicação do ser humano, é sempre saudável lembrar que não se pode erigir o vernáculo à condição de mero detalhe. Em  sendo assim, não se pode querer ocultar, sob o manto do regionalismo, o que não é regional, mas aviltante desrespeito à norma clássica. Talvez, por isso, tantos dialetos tenham estuprado “a última flor do lácio”, ao arrepio das necessárias reprimendas aos ilícitos oriundos daí.

                                      É bem sabido que o costume impõe o nome, pela tradição, mas pode mudar. À guisa de ilustração, a região do oeste da Bahia já se chamou, por muito tempo, “NEGÃO”. Após, MIMOSO, e agora, EDUARDO MAGALHÃES. Não muito longe da exemplificação, Dianópolis já foi Villa do Duro, São José do Duro, São José D´ouro.  Aliás, mesmo na lição dos Registros Públicos, edificada pela Lei 6.015/73, que cria certa resistência à modificação do pré-nome das pessoas naturais, de outro lado, autoriza a retificação daquilo que nos cause constrangimento público. Agora, imaginem os senhores, então, em relação a um adjetivo pátrio ou gentílico, que tem o propósito de nos dar tratamento cerimonioso.

                                       Por que trocaria o adjetivo gentílico Dianopolino por Dianopolitano?

                                      - Porque a construção morfológica da palavra induz a este tipo de flexão, no léxico, em sua origem.

                          - Porque, inicialmente, esse foi o adjetivo ensinado pelo mestre de gerações em Dianópolis, professor Carlos Alberto Wolney. E, portanto, me filiaria à tradição, não ousando desafiar os seus conhecimentos, principalmente, sem garantir-lhe o necessário direito de resposta. 

                                      - Porque a sonoridade do sufixo “INO” revela algo menos expressivo que o sufixo “ANO”. Porque, também, será sempre, de forma expressiva, que buscaremos ver os filhos Dianopolitanos.

                                      - Porque, muito embora, não seja o dono da razão, do saber, sou filho do lugar, e ouso querer receber o adjetivo pátrio, através da defendida flexão.

                                       - Enfim, porque não existe regra gramatical que imponha a construção do adjetivo em comento, como se tem feito, mas, pelo contrário, como vinha sendo edificado, no passado.

                                       Ao final, cabe ressaltar que a retificação ou mudança só depende dos filhos do lugar, uma vez que, se porventura implementarem a volta da pronúncia correta ao adjetivo pátrio, DIANOPOLITANO, certamente, os novos dicionários, em suas revisões, farão a necessária correção.

                                       As considerações feitas, até aqui, se ancoram na história, na tradição e na lógica gramatical, sem se firmar como absoluta. Aliás, já lecionava Kardec: submetam ao crivo da razão, formando suas convicções, para aceitar ou rejeitar os postulados, que nos são apresentados.

                                      Por derradeiro, nos penitenciamos pelos arroubos sentimentais e bairristas, considerando que, em nenhum momento, se teve o propósito de exaurir a temática, mas, apenas produzir reflexões, antes de estabelecer imposição. Quiçá, abrir o debate sadio, com o propósito de encontrar idéias, que possam ofertar luz, se possível for, ao fulgurante luzeiro da Terra das Dianas. 

 

                               * ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO - Advogado e Professor Universitário

       

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