A LIÇÃO GRATUITA DOS ANIMAIS
ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO*
23/03/2010
Poucas pessoas compreendem a insistência de inúmeros cidadãos carregarem consigo um animal de estimação, principalmente, o cachorro. Todavia, hoje, está comprovado por psicólogos, que a presença dos animais, em nossa vida e companhia, nos deixa menos solitários, ansiosos e felizes. Além, é claro, de nos ensinar pelas suas posturas, comportamentos e gestos.
Por isso, já dizia o maior jurista do século, Rui Barbosa, em relação ao cachorro: “o cão é o melhor amigo do homem.” Em seguida, a sociedade assustada com a afirmação, exigiu que Rui exemplificasse, ao que fez nos seguintes termos: “coloque uma cobra cascavel entre um pai, um filho e o vira-lata da família. Após, observem que o pai correrá para um lado e o filho para o ouro, e o cão se embolará com a cascavel, dando a sua vida por ambos.” Temos muito que aprender com os animais. Pois, gesto assim, só vindo mesmo do maior dos homens, o Rabino da Galiléia, que doou a vida por toda a humanidade.
Talvez, por isso, ratificando sua assertiva, considerou Rui Barbosa: “quando mais conheço os homens mais admiro os cães.” Certamente, os cães, são amigos, fiéis, e guardiães do nosso lar. Por isso, não devemos abandoná-los ao relento, sem o alimento e zelo necessário, até que a carroçinha os levem para o centro de zoonoses. E lá, trancafiados numa câmara, seja aberto um botijão de gás, para que eles morram asfixiados. Isto, se antes não solicitarmos ao veterinário que os elimine com uma injeção letal, na medida em que começam a ficar velhos.
Dizia Lavoisier: “os animais não falam e nem pensam, mas sentem e choram como os humanos. Chegará um dia em que os animais serão tratados com o mesmo respeito que as pessoas.” E, nesta data, certamente haverá equilíbrio perfeito do meio ambiente para a subsistência humana.
Nas Sagradas Escrituras, a lição religiosa é no sentido de dominar os animais para nos servir, conforme exsurge da Gênese, capítulo 1, versículo 28: “[...] Frutificai e multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.” Todavia, estamos vendo uma inversão dessas lições.
Na realidade, observamos que, se de um lado falta um todo aos bichos; de outro, há excessos inaceitáveis. Realmente, para muitos, verifica-se uma questão tormentosa a lide e convívio com os animais. É sempre bom lembrar, a idéia de Renê Descartes: “Nem tanto aos céus e nem tanto aos mares.” Há animais, hoje, que são tratados como se gente fosse, longe do seu habitat natural, com regalias e requintes, maiores que muitos homens. Aliás, do resto de alimentação de muitos cães de madames, muito mendigos se alimentariam muito bem.
Por isso, muitas vezes não se pode entender o Legislador, que num ato desesperador de proteção aos animais, resolve erigi-los a condição de bem maior, que a própria espécie humana, pois que agora cometer crimes contra a fauna ou meio ambiente, pune-se de forma mais rigorosa que o crime de homicídio.
Complexa é a situação, pois também não se pode ignorar a prática de zoofilia, bestialidade, já condenada pelo Livro Sagrado, em Levítico 18:23, nos seguintes termos: “[...] nem te deitarás com animal algum, contaminando-te com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; é confusão.” Todavia, não se pode ignorar, que das confissões íntimas dos recônditos de Delegacias, vê-se que muitas pessoas, portadoras de distúrbios psicológicos, têm domesticado pastores-alemães para a prática de atos sexuais. Quando após, os animais seviciados, começam a rasgar roupas de madames, desejando sexo, e estas acionam o corpo de bombeiros, para levar o animal.
Os animais são criados e domesticados não para serem castigados, molestados, até a morte. Estes estão aí para nos servir, como um dia o jumento serviu, em Nazaré da Galiléia, a Mãe santíssima e nosso padroeiro, São José, no transporte do maior dos homens, que esteve em nosso meio, Jesus Cristo. Por isso, Luiz Gonzaga já exaltava in Apologia ao Jumento: “[...] animal sagrado, abençoado, o jumento é nosso irmão. Lembrou ainda, que aquela cruz que o bicho carrega nas costas é o local onde menino Jesus fez “pi-pi”. O rei do baião bem que sabia das coisas.
Bem diferente da festa do Boi e das touradas, em terras Espanholas, que pela diversão das multidões, os bichos são maltratados até o final da vida. Aqui em Terras brasileiras são os rodeios de montaria, onde os animais são encarcerados, recebem pauladas, queimaduras. Quebram as suas patas, chifres, em nome da platéia, que aplaude algo como sendo esporte. Talvez, quem sabe, os mesmos que, igualmente, um dia, aplaudiam os cristãos sendo trucidados pelos leões nas arenas de Roma.
A competição sadia sempre existiu e existirá. E constitui um estímulo para espécie humana, aproximando povos, nações e raças. No entanto, a competição ou esporte, onde se vê o massacre de um animal, como os touros, que não raras vezes estrebucham o toureiro, pelos chifres, em frente a própria platéia, nos soa como algo incompreensível, apesar dos aplausos, ninguém sabe se para o touro ou o toureiro ensangüentado na arena.
Os animais, aves, bichos nos ensinam todos os dias. Bastasse que observássemos as suas condutas e comportamentos, para daí, tirarmos notáveis lições.
Vejam a maestria do João de Barro, que constrói casas, apenas com os bicos, de fazer inveja a notáveis engenheiros. Sem contar que aludidas moradias resistem, por gerações, de forma intocável. Aliás, ao final, cabe refletir que quando a companheira desses resolve traí-los, dizia o cantor, fica presa na morada pro resto da vida.
O cavalo, além da serventia montaria e carrego de cargas, demonstra que não merece ser estropiado em carroças ou rodeios até morte. Revela ser o animal mais nobre, pois não coabita com suas crias, expulsando-as. Diferentemente do que faz muitos humanos, que pensam, raciocinam, possuem religião e estupram suas próprias filhas.
O Cristianismo nos trouxe a idéia da família monogâmica, para evitarmos o crime de bigamia. Mas, o adultério continua sendo uma prática comum. Por isso, os papagaios, as aves mais fiéis, nos ensinam como manter a fidelidade a um parceiro até a morte.
Enquanto as comunidades científicas abusam da ética, moral, religião, bons costumes, no processo da reprodução assistida, os colibris, abelhas, nos ensinam como, eticamente, se faz o processo de reprodução dos vegetais, apenas beijando flores, em cada manhã, e transportando os polens de uma para outra, para possibilitar a procriação dos frutos.
Aliás, a ciência em suas investidas laboratoriais, sem ética e moral, tem impingindo aos animais-cobaias as piores atrocidades. Não bastasse a eliminação de milhares de embriões, que são vidas, para garantir a clonagem da ovelha da Dohli, onde a natureza nos deus a resposta, eliminando-a pelo envelhecimento precoce de suas células.
Os golfinhos, símbolos dos advogados, pela inteligência, mostram como se protege os náufragos e mergulhadores no mar, desviando a atenção, e fazendo um cordão de isolamento, em relação aos predadores.
As formigas continuam dando a maior lição de organização, disciplina e planejamento em grupo. Regramentos que todos nós achávamos, que apenas o militares fossem obrigados a exercê-las. Ora, a grande problemática de empresas, e empreendimentos particulares, está na falta desses três elementos, para que se possa alcançar o êxito. Assim, vê-se que há uma liderança da formiga rainha, que comanda todo um exército de formigas, sem guerras, sem brigas, sem queixumes e sem rebelião.
As águias nos dão a lição do eterno recomeço e da solidariedade dos membros de um mesmo grupo. Sabe-se que ao atingir os 40 anos, a Águia dirige-se ao mais alto topo da colina. E, ali, vai tirando suas velhas penas e garras, permanecendo nutrida e alimentada por outras águias, até o nascimento de nova roupagem. Quando alça vôo para viver mais 40 anos.
Assim, vamos nós, de cá, tentando acolher a lição sábia dos bichos irracionais, enquanto a nossa racionalidade não for capaz de assimilar as lições em gestos e imagens, que se antepõem aos nossos olhos, a todo momento e de forma gratuita, através da mãe natureza.
* Professor Universitário e Advogado, mestrando em Direito.