O HOMEM E O FIM DA DEVOÇÃO PELA NATUREZA

 

Mário Sérgio Mello Xavier*

Indaga1@hotmail.com.br

 

31/03/2010

  

 

Durante os primeiros resquícios de vida humana na terra, o homem demonstrava um grande respeito e adoração pela mãe natureza. Basicamente, a idéia inicial dessa devoção, nasceu com o culto ao “deus sol”, este que era tido como um ser superior, pois iluminava o dia e permitia que toda a vida na terra pudesse enxergar, caçar e se aquecer. Era como se o sol fosse a vida, e a escuridão da noite fosse a morte. O homem há poucos milhares de anos atrás, tinha um convívio e harmonia com a natureza, que poderíamos dizer que ele sentia-se parte da natureza. Ele, ainda que intuitivamente, sabia que fazia parte deste “todo” que os gregos antigos já chamavam de *physis. O homem, a natureza, os deuses gregos, tudo era imanente ao cosmos. Dessa maneira, sabia-se que um estava ligado ao outro, nasceram juntos, eram irmãos. Durante a idade antiga, por exemplo, o homem se reconhecia diante da natureza e expressava o chamado politeísmo (crença em vários deuses), visto que o monoteísmo (crença em um só deus) só fora aparecer bem mais tarde, com advento do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Algumas civilizações mais antigas, como as Egípcias, adoravam deuses antropomórficos, ou seja, davam forma humana a animais ou objetos inanimados. Outras civilizações, como a Grega, acreditavam que o raio, a chuva, o sol, o fogo, a terra e muitos outros elementos da natureza eram deuses. Percebe-se que o homem respeitava “exageradamente” a natureza e temia a sua força destruidora. No âmago de sua existência na terra, o homem já sabia que “poderia” ser filho da natureza, visto que todos nós, de alguma forma, somos constituídos de elementos que também são encontrados na natureza. Sob esta ótica, faltava ao homem pré-histórico e antigo, apenas um pouco mais de respeito e temor ao próximo, pois as carnificinas que foram praticadas durante as guerras, nas disputas por territórios e poder, acabaram deixando o ser humano cada vez mais lobos de si mesmos.

O homem deixou de lado o respeito pela natureza e passou a beatificar pessoas. Baseados nos chamados livros sagrados (evangelho), que foram escritos pelos seus próprios semelhantes, o homem passou a se colocar como o centro do mundo. Apesar de terem uma lei divina, criaram suas próprias leis, dividindo o mundo em apenas dois planos: O plano de Deus e dos homens. Como o homem passou a imaginar Deus como sua imagem e semelhança, era de se esperar que ele iria dividir “um só Deus” em vários. Motivados pelas “diferenças” raciais e culturais, passaram a acreditar em histórias diferentes, dando várias cores e formas há um mesmo ser, há uma só essência. O plano natural (da natureza das coisas) foi deixado de lado e hoje muitas vidas pagam (e vão pagar) por este descaso todo que é praticado. Apesar disso, ainda temos alguns cultos e religiões que rebuscam um pouco do antigo politeísmo, mas todos eles sofreram certo sincretismo, quando associou, por exemplo, Orixás aos santos católicos. Mas a essência do culto a estes Deuses continua sendo dividida basicamente em quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias. Os indígenas, desde os tempos das civilizações Astecas e Maias, que muito antigamente povoaram as Américas, antes mesmo da imposição católico-européia, manifestavam em seus rituais e cerimônias o respeito e a devoção pela “mãe” natureza. Ainda hoje, uma simples abóbora ou uma mandioca, frutos de sustentação básica da alimentação dos povos indígenas no Brasil, são todos celebrados e respeitados como algo divino. O respeito que existe entre caça e caçador também é algo muito encenado em seus rituais.

Apesar de tudo isso, o que mais vemos hoje em dia, são árvores que demoraram 50, 200 ou até 500 anos para crescerem e que em dois minutos são jogadas ao chão, sem que o homem pense nas conseqüências. O ar poluído, o solo cada vez mais pobre e o meio ambiente em geral, estão enferrujando juntamente com as maquinas humanas. O homem moderno pensa apenas no imediato, no que se deve ganhar neste momento, não pensa nem mesmo em seus filhos e netos, que com certeza irão sofrer no futuro. A ganância e a irresponsabilidade estiveram e estão presentes em todos os povos, em todas as religiões e a natureza tem dado sua resposta. Enfim, o homem “imperfeito que é”, está mexendo com algo perfeito e de repente tudo tem mudando muito rápido, sempre para pior. Apesar de vermos o empenho de muita gente em preservar a natureza, tudo isso leva a crer que o homem moderno perdeu sua identidade, a partir do momento em que virou as costas para aquilo que lhe deu a vida, que é a natureza. A chamada “mãe natureza” proporcionou a todos a oportunidade de ser feliz, mas o homem infelizmente nunca soube  fazer uso dessa felicidade.

“Conta certa lenda, que tudo que cai nas cachoeiras do Cavalo queimado e Rio da Conceição: As folhas, os insetos, os galhos das árvores, se transformam em pedras do seu leito... Quem dera se eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atira-lo na correnteza e então, não haveria mais a dor, nem saudade, nem lembranças desse maravilhoso paraíso que se transformará em concreto e cimento no futuro...”

 

Fragmento de um poema.

 

*Acadêmico do curso de história

UFT – Porto Nacional

Autor do Blog: www.dnoto.blogspot.com

*Physis - Segundo os filósofos pré-socráticos, é a matéria que é fundamento eterno de todas as coisas e confere unidade e permanência ao Universo, o qual, na sua aparência é múltiplo, mutável e transitório.

       

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