HUMOR TIPO-TIPO NÃO É ZIGUE-ZAGUE

 

Edilton Bartolomeu Silva

DNO, 1974

 

ASSALTANTES DE QUINTAIS

 

 

                        Não sei como um menino normal, consegue transpor a infância sem efetuar nem que seja um roubinho de ovos ou outra coisa assim, que para a professora e os adultos é o início de uma má carreira, contudo, para nós meninos naquela época, nada mais era do que o despertar inteligente, pois um ovo ou uma galinha jamais influiriam nas economias de quem ficasse sem eles.

                        Galinhas e derivados, era pau que tinha, e crescia a necessidade de novas técnicas e maiores astúcias.

                        Armava-se arapuca, maneira mais fácil de defesa própria. Quando a galinha caia era logo depenada, e recebia o nome de galinha d’ água, jacu, ou ainda era considerada passarinho, pois para os mais velhos a arapuca tinha sido armada e isso, era o que bastava. Nunca eram exibidas com as penas, pés e cabeça, já cheiravam a panela.

                        Quando atraídas por um grão de milho iscado num anzol, a cena era cruel, e a bichinha, vinha com o pescoço de alavanca e era considerada um peixe com penas e tudo. Em matéria de roubo de galinhas, era o método único, de se conseguir o silêncio de tal peixe.

                        Só a fiel a inseparável baladeira(*), nos dava a certeza da vitória. Era arma perigosa quando nas mãos de Edilton – o grande, e de tantos outros contemporâneos. Era pau ou pedra. Ou acertava na cabeça, ou tinha que dar o fora, pois como todos sabemos, as galinhas são muito escandalosas, e não há pessoa, que não identifique o alvorecer de uma galinha perseguida. Ouve-se logo o grito macabro: pega ladrão.

                        Em parta a opinião pública tem razão. O Sr. Delegado, hoje faz a gente pagar a galinha roubada, isso porque não existe ainda um código penal para ladrões de galinhas, especificamente. Naquele tempo, não tínhamos razão para sair por ai, vendendo galinhas, porque éramos inocentes e ninguém iria comprar uma mercadoria, sem saber a sua filiação ou origem. Portanto, ela ser considerada peixe, jacu, passarinho e outros bichos mais, para nós era a coisa mais natural do mundo e hoje, é normal.

                        Interessante, é que no Natal, rouba=se galinhas, e celebra-se missa do galo, incrível, mas é normal.

                        O peru passa o ano inteiro dando voltas, com aquela bossa de granfino, mas nem nos tempos de meninos ele entra na estória, como objeto roubado, incrível, mas é normal.

 

(*) – Estilingue

 

 

       

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