Ainda sinto cheiro do frito

 

Dorgival Araujo de Sousa

01/06/2008

 

Tinha eu meus 14 anos de idade quando arribei da minha querida terra natal rumo a outros horizontes juntamente com meus pais e irmãos. Mas, nunca deixando perder de vista aquele pedacinho do céu onde sempre volto para redobrar minhas forças tomar minhas bênçãos e reencontrar os amigos ali deixados. Dentre eles, faço questão de frisar o meu compadre Edilton (caixão de osso para os mais íntimos). Compadre porque tive o privilegio de batizar sua linda filha Quênia a qual tenho muita estima. Apesar de ser um dos meus melhores amigos nessa época, ele nunca perdia a oportunidade de armar alguma traquinagem contra mim. Certo dia, bem cedinho, eu perambulando pela rua, sem nada pra fazer como se diz no interior medindo rua, desolado, Mão no bolso, cara pra cima, a procura de algum desocupado como eu para brincar tipo, jogar bola – de- gude, finca, pinhão, ou inventar qualquer outra peripécia que pintasse para preencher  o tempo. Então, fiz uma parada estratégica na praça em frente a casa de Nélio, onde havia um frondoso pé de manga ali nos reuníamos para nossas brincadeiras e bate papo. Antes porem, já tinha passado na casa do mestre Avelar um especialista na feitura de baladeira, para olharmos algumas das nossas arapucas estrategicamente armadas, na esperança de surpreender alguma galinha  D’água para reforçar o nosso almoço. E, também, lhe adjitoriar no corte do amarradir  para feitura das baladeiras coisa que só ele sabia fazer como ninguém. Quando de repente, como por encanto, surge o meu querido amigo e compadre Edilton. Todo faceiro, falante e cheio de boas propostas rendosas tipo pegar ou largar. Pois, o que ele propusera, muitos estava querendo mais eu era o mais indicado para a tarefa. Pois, era seu amigo do peito e estava assim disposto a me ofertar tal missão que até então eu não sabia bem o que era. Depois de muita lorota e conversa fiada coisa que não precisava, pois eu estava ali justamente procurando o que fazer. Ai, foi onde ele me confidenciou a importante e irrecusável missão da qual eu iria alem do aprimoramento no manejo da baladeira, também me ensinaria à difícil arte de não perder nenhuma pelota na cabeça dos periquitos que iríamos matar na fazendinha. Era época das mangas e por lá os danados estavam fazendo a festa. Como seu primeiro assessor nessa empreitada, Dante filho de Eliseu Cavalcante que também era especialista manejo da baladeira. Eu porém, como ajudante, ficaria na árdua tarefa de carregar os apetrechos. Tipo, apanhar os periquitos que caiam semimortos e também de colocar o grude de jaca perto das mangas para prender-los. Lembro-me que depois de uma tarde, de cara pra cima matando os periquitos, nos rendeu um saldo de mais de cento e cinqüenta. Eu com meus dedos desfolhados das picadas  coloquei todos dentro de uma capanga grande e rumamos cantarolando rumo a cidade. A fome e a sede nem se fala. Mais, contente com o saldo positivo e logo iríamos saborear aqueles minúsculos corpúsculos ali inertes. Iria ser uma grande farofada dizia meu compadre Edilton sempre apoiado pelo seu assessor Dante. Radiante eu me ofereci para trazer algum ingrediente de casa para ajudar na feitura da farofa mais não fui bem sucedido. Prontamente ele me acalmou  dizendo  que sua Irmã Edimê  era especialista no trato dos bichos e que tudo estava já arrumado

E que eu poderia ir para casa e descansasse um pouco que era o tempo de ser preparado o nosso banquete. Dante, com um sorriso amarelo confirmava tudo. Chegando em casas minha mãe já estava preocupada pois não tinha aparecido para o almoço coisa que dispensei de imediato pois não iria forrar minha barriga com coisa que comia todos os dias queria, diferenciar um pouco o paladar. Eu muito avexado não esperei à hora lambendo os beiços, subi rua acima rumo à casa do compadre que já vinha correndo em cima de uma bicicleta ao meu encontro morrendo de rir e dizendo que eu tinha demorado um pouco mais que minha  parte do frito estava em cima do fogão era só falar com Edmê. Mais que depressa apressei o passo, pois a fome eu já não agüentava mais. Para minhas tristezas e decepção, fui recebido por sua irmã que prontamente me deu a noticia que eu não queria ouvir de que tudo já havia acabado. Zé seu irmão e outros  que ali se encontravam na carpintaria de seu pai ajudaram a devorar o meu bocado e não tinha sobrado nem um tiquim. De volta para casa cheio de tristeza meio aluado, cabisbaixo, azul de fome aí lembrei-me do prato de comida que minha mãe antes havia me oferecido e eu orgulhosamente dispensara, pois, naquele dia queria comer uma coisa diferente. Voltando para casa encontrei Edilton e Dante morrendo de rir fazendo cabriola com a bicicleta na minha frente. E assim diz o ditado popular quem tudo quer tudo perde.

 

       

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