09/12/2004

REENCONTROS

 José Cândido Póvoa  – Advogado e  poeta (jcpovoa@hotmail.com)

 

            Quando criança não compreendíamos muito esse movimento incessante e às vezes confuso do tempo, muito menos nos  atínhamos  a cronologia matemática das idades. Não percebíamos muito bem o tempo que passava. A preocupação que nos ligava a esse fenômeno, era apenas a ansiedade  em atingir os dezoito anos, para podermos fazer muitas coisas que os homens adultos rotularam como permitidas somente para depois daquela idade. Os anos, os meses, os dias, as horas e tudo mais, giravam apenas e unicamente, em torno dos momentos tão intensos que vivíamos, que diga-se de passagem, talvez poucos os tenham vivido como aqueles que os passaram numa cidade do interior ou numa fazenda,  embora cada um tenha   particularidades e detalhes da meninice guardados no mais íntimo do coração e da alma. As brincadeiras nos quintais, a lembrança das primeiras chuvas, as árvores se embelezando para uma gestação fértil e sadia para nos fornecer as delícias  das frutas desejadas (incluindo nisso as dos quintais dos vizinhos); os banhos escondidos dos pais em córregos da redondeza, onde aprendíamos a nadar para não morrermos afogados,  safando-nos do empurrão de um primo ou amigo, que não se  preocupavam se sabíamos ou não sair da situação; os locais que se transformavam em autênticas arenas para disputas de jogos de bola de gude e campeonatos de pião e nos dias chuvosos, para disputas de jogos de finca; as praças transformadas em estádios de futebol... Esses mesmos locais, que nas noites enluaradas serviam de abrigo para as brincadeiras de esconde-esconde, salto de distância e altura, queimada, etc. E, agora, quando retornamos àquele mundo que foi  fértil de amor e tão generoso  para conosco, constatamos que realmente o tempo ao aliar-se a idade, nos transforma em outros seres: uns  poetas e sonhadores, outros, em criaturas que não crêem muito nos sonhos e vivem por conta, exclusivamente, do material e do dinheiro, convencidos que assim são felizes. E cada um seguindo o rumo que escolheram para si. Mas de uma coisa temos certeza: todos nós temos guardados no escaninho da saudade a cidadezinha, a serra que a emoldurava, o córrego cristalino que a banhava, os locais preferidos para brincadeiras da infância, no nosso caso, Dianópolis, Serra Geral, Córrego Getúlio, a grande mangueira da praça, os becos e ruas estreitas, etc. Muitos, talvez, ao retornarem a esses locais, não observam que os córregos de águas cristalinas que banharam nossas infâncias e outros locais que nos abrigaram na ingenuidade daquela época, não existem mais. Entendendo, agora, que o tempo ao aliar-se à idade nos faz viver  muitas vezes de recordações, é que conclamamos aos jovens e aos contemporâneos, para que não deixemos passar as oportunidades que nos são oferecidas, os detalhes e reencontros que nos são oportunizados e vivamos com intensidade esse sentimento que é a turbina  que move o mundo,  que independe da condição material e que só exige de cada um tão somente a grandeza de coração: o amor.

Publicado no Jornal do Tocantins do dia 18/01/2004, domingo.

 

       

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