EXTEMUS

J. Alencar Aires*

É tempo ainda
e já há quanto estou voltando...
Nada me soa com o grito que interfere as grandes
chegadas,
porque tudo é simplesmente igual
páginas lívidas ancoradas em porto
onde a memória é o castiçal noturno.

Bonito foram meus dias
clamas as minhas tardes.
Onde esqueceu-se de mim as volúpias
que antecedem a primeira juventude!
Onde ficaram os meus dias jorrando o cromo
das surpresas...
Por onde se repartiram os pássaros!...

É tempo ainda
e meus olhos estão cegos pela brancura
de alguma luza.
Existe um gume na tonsura da noite
um archote que não se extingue no meio da minha
vida.
Porque vaza o meu silêncio a procissão dos
medos!

Ainda é cedo
e já quase estou chegando
para o derradeiro instante das coisas.
Porque este encanto fluindo lento
como se estivesse à beira da penúltima
expectativa!

Ainda é cedo
e só eu sei dentro de mim
onde guardo as emoções inaugurais
de minha íntima existência.

Sou assim
gerado como a lenda
fecundado nos abismos
onde não se desencantam os
homens.
Sou a última prenda dada aos pássaros
na sabedoria da volta.
Sou o prisioneiro
consumindo-se de tempo e memória.
Roubasse o meu alcance das mãos de minha
vida...

Agora é tarde
lá fora o chuva cessou
deixando um verniz no tempo.
Os pássaros balançam docemente
na melodia dos galhos.
Tudo de repente está extinto
como os grande inícios.
Alguma coisa está sendo proibida
dentro de minha alma
e só eu compreendo esta tristeza
quando as flores perfumam
feliz indiferença.

 

*Poeta, escritor, músico e compositor

       

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