CASIMIRO COSTA NETO

 

Soluços

 

Soluços, soluços frementes,

Saudades torturantes

Dos teus olhos traentes

São duas estrelas lamuriantes,

São símbolos suplicantes,

De amores e saudades.

 

Teus olhos são duas estrelas,

Que amo, por amar e Vê-las

Teus olhos juvenis

São dentre tantas elas,

As duas mais belas

Que vi em meu pais.

 

Em amar-te após,

Sobre os teus pés

Minha amada ajoelhada vim depor

Pelos teus olhos fonte perene de  meu amor

Quando de ti distante lá da imensidade

Vem a brisa cheia de saudade,

 

Vem o luar rever o meu sertão

Vejo aqui os campos cheios de flores,

Meus versos são

Suspiros de amores,

Guardai-os pois em teu coração

 

(no mourão da porteira da fazenda Uberlândia,

município de Dianópolis-TO em 1949)

 

 

A Poesia

 

Você me aparece com uma poesia

Como uma aurora, ume estrela do dia

Como amante seria minha predileta

Para os versos nas quadras do poeta

 

Você,  por seu encanto, se fosse minha

Teria em minha alma, por certo, moradia

Teria do que tenho em todos os meus desejos

No afeto de minhas mãos, a carícia dos meus beijos

 

Você será o meu cerne, de todos, o preferido

Em uma seresta com seu amor mais envolvido

Sem lhe esquecer, dar-lhe-ei todo o carinho

Em nosso encontro, nosso adeus, nosso caminho

 

Por essa estrada da vida estou passando

O mesmo sentimento, o verbo amar soletrando

Parece-me com o teu amor sorrindo, o meu cantando

 

Parece-me com uma estrela luzente

Iluminar, lá de longe, minha mente

Com seu amor,

com uma aurora,

um amanhecer do dia

Para colher palavras de ternura, a poesia.

 

 

Meu Amor

 

Nesta bela estrada da vida

Nesta vida o que tenho é de viver

A ti chamando de minha querida

Quero, então, só a ti merecer

As serestas que faço em sua porta

São quadra de versos meus

Neste mundo, só o que me importa

É o abraço destes braços teus

Meu amor, meu amor

Vejo aqui lua, céu e estrela

Meu amor, meu amor

Com saudade desejo revê-la

 

Sentimento Sertanejo

 

É o sentimento que eu tenho agora

Uma lembrança que não posso esquecer

E a saudade de voltar na hora

Pra minha terra, e lá eu te rever

Falar da festa onde eu te encontrei

Daquela noite vivo recordar

Dos teus lábios quando eu beijei

Do estreito abraço e sempre a dançar

Não me esqueças meu amor

Pois amar traz ilusão

Quero sentir teu calor

Mesmo em recordação

O que fiz naquela festa

Foi te dar meu coração.

 

 

 

Nunca te esqueças de mim

 

Vens ver a lua derramando

Sua luzerna em meu sertão sem fim

Por a lua que clareia as matas

Nunca te esqueças de mim

Vem enternecida flor

Do meu delicado jardim

Quero-te tanto em minha lembrança

Nunca te esqueças de mim

Tudo no mundo nasce e morre

É bela a natureza aqui

Vem me ouvir a voz do peito

Nunca te esqueças de mim

Tarde sombria e lua branca

Vejo em meu sertão sem fim

Com saudade de você amor

Nunca te esqueças de mim.

 

 

 

A Baiana e a Mineira

 

A mineira eu simpatizo

A baiana eu quero bem

Eu digo pra você

Você, não diga pra ninguém

Se a mineira for simpática

A baiana pode ser mais

Eu quero bem às duas

Eu sou um bom rapaz

Ai baiana, mineira,

Meu cordão de ouro

Ai mineira, baiana

Tu és meu tesouro.

 

 

 

Tardezinha

 

Some-se o sol no infinito

O rio me considera como delito

Ao som das cachoeiras

Do retumbar das águas

Me decrescendo as culpas

Me ofertando lágrimas

E um sabiá

Que assobia a cantar

Nos fortes galhos da

Própria natureza

Some-se, também, na distância do ar

Lenizo minha voz no riso da tristeza

É que o pássaro também tem coração

Tem amor, em sua simplicidade

Tem o direito de assobiar canção

Mas não tem o de soletrar sau-da-de

Tão pequenino cantor inocente

Pousai aqui, ali, ou acolá

Tu ouvirás minha voz plangente

Da lira do coração, meu sabiá

Tu viverás aqui debruçado

Nos versos do amor que vivi

Nas escórias do meu passado

Nas saudades de Floracy

Só ela apagará a minha dor

Dos versos de saudade

E de amor.

 

 

 

A Blusa

 

Maria, a blusa que você me ofereceu

Naquela madrugada de verão

Abraçava-me como se fosse um braço teu

Amorosa e estreitamente o coração

 

Mas, entre o estreito abraço que recebia

Da blusa, a ela carinhosamente apertei

Dedicadamente como se fosse a Maria

Com afeto emocionado a blusa beijei

 

Maria de você eu me despeço

Aqui de fora de sua casa, na solidão

Deixando uma lembrança em cada espaço

Deixando em cada letra uma paixão.

 

 

 

Lembrança e Saudade

 

Você não me saiu mais da lembrança

E por quanto tempo demora em mim

Achas que o meu sofrer não cansa

Amparo-me na letra, escrevo-lhe assim

 

Quantas vezes pensei em lhe falar

No instante quando eu estava cantando

Dos seus olhos como estrelas vinham brilhar

Dos meus olhos que no efeito estão chorando

 

Do seu sorriso, de sua voz e do seu semblante

Do domínio do jeitinho de me falar

Esse seu olhar cada vez mais luzente

Veio o recôndito de minha alma luminar

 

Não refiro-me a nenhum gesto não me deste

De nenhum adeus gozei lhe confesso a verdade

Imortal como a lembrança, como a saudade.

 

 

 

A Tardezinha

 

Fazenda Paraíso, 04/08/1995

 

Cai a tarde sombria e vagarosa

Sobre um manto azulado do infinito

Enquanto sinto uma lembrança ditosa

Na voz da brisa evacuar o meu grito

 

Solitário quase eterno e destemido

Passou pela vida materna em velocidades

E cá no acento etéreo e mais comovido

Passou o véu adormecido de saudades

 

Das que foram, das que ficaram e as que serão

Formaram lágrimas mais puras assim cristalizadas

No recôndito de minh’alma e no meu coração

As vezes da brisa e as minha aqui alembradas.

 

 

 

No campo perdido

 

Fazenda Uberlândia, 1954

 

Procurando o Lesto eu estava

Até que o  rastro eu encontrei

Pelo carreiro eu identificava

Se era o rastro dele identifiquei.

De repente, olhei e vi

Um encanto lindo

Uma invenção de Deus

Por onde sobrevoava

Alegre um bem-te-vi

Onde dardejava a

Brisa nos olhos meus.

Quem es tu, virgem encantadora?

Ela, em silêncio tanto alegre sem clamores

Enfeitada –de flores

De cor, multicolores

Despertava seus cantores

O bem-te-vi cor de ouro

O joão-de-barro construtor

O bem-te-vi canta o choro

O João-de-barro, o seu amor.

 

 

 

Neuracy

 

Não mais lhe esquecerei

És a virtude do meu ser na vida

Única na realidade

Rica em seiva de amor e saudade

Assim em tua ausência és recordação

Contigo me confesso em breve confissão

Imagem de mulher, és vida do meu coração.

 

 

 

Sol Vermelho

 

Porque sol vermelho esconde seu encanto?

Nesta hora venho lhe implorar

Para um novo dia amanhecer

Se lá onde você se esconde pode renascer

No vasto espaço por detrás dos montes

No infinito azul, em vagos horizontes

Para aqui na terra eu mendigar tua luz

Por uma solução sedutora me conduz

Pelo encanto sublime da vida de Jesus

Se tu me desenhas no infinito uma cruz

De quem agradecemos a primorosidade

Deste exemplo de amor do coração de Jesus

Da recordação do bem do amor e da saudade.

 

 

 

Brasília

 

Bem vinda noiva do meu luar ao meu sertão

Rainha do Brasil, nascentes neste berço teu

Assim tão alto pra lua te beijar com o clarão

Suave, saudoso e sombrio lá do céu

Imaginado por João Bosco, profetizada

Lírica como és, te devemos ao mineiro

Imagem de cidade por Juscelino criada

A noiva do meu luar, é o orgulho brasileiro.

 

 

 

As leis

 

As leis dos homens são como as teias de aranha:

Prendem as pequenas mariposas, soltam os grandes besouros.

 

Enquanto o homem pensa que é civilizado

Será vítima do que ele ignora.

 

A beleza que temos está no que, simplesmente, vivemos

As saudades passam-me do passado para o presente: as recordações.

 

As flores são tão bonitas quanto a beleza da bondade

Música é isto que ouvimos. Só hão sabemos descrever com certo conhecimento.

 

Se preguiça fosse veneno, nós teríamos menos da metada

Da população adulta do Brasil.

 

 

 

Refletir

 

Arrastei no bagaço dos meus conhecimentos

A recordação de um amor perdido

O fracasso de toda séria ilusão

O carinho do meu amor vendido

Tão feliz ela se julgava

Tão feliz quanto eu me julgo

Do amor vendido, o dinheiro acabará

Do amor amigo, sou eu o amigo

Se me entenderes um dia

Se me julgares pela realidade

Se te considerares feliz, para mim sorria

Amanhã sorrirei para ti, é verdade

Por que com tantas odiosidades

Em troca do que te dei de amor?

Esqueceu em tua falsidade

O bem que te fiz? E o teu pudor?

Onde estás que te imploro tanto,

Que me sinto em clamores meus

Perdidas letras, gotas de prantos.

Cristalizadas neste meu último adeus.

 

 

 

O Salvador

 

Meu Jesus Cristo, vejo-te aqui

Como aquela imagem que sempre vi

Há muitos anos quero-te em mim

Pala razão de teu amor eu nasci

Sois a paz conquistada na cruz

Sois o supremo sol, sois minha luz

O caminho onde a distância se reduz

Para a esperança, com fé me conduz

Vejo-vos no espaço, com nobreza

Na terra e em toda a natureza

A perfeita beleza de toda beleza

A maior riqueza de toda a riqueza

O espelho de paz exemplo de amor

O maior humilde conhecedor

Das virtudes divinas, do risco e da dor

Meu Cristo, Meu Cristo Salvador.

 

 

 

O Tempo

 

Todos me tem toda hora

Alguns reclamam não ter

Todos precisam de mim

 

Sou do mundo o primitivo

Dos anos de antigamente

Sou passado, sou futuro

Toda hora estou presente

 

Sou tudo que tu quiseres

Sou tristeza ou alegria

Sou tudo que todos querem

Seja de noite ou de dia

 

Sou  mosca da sopa

Sou botão desta roupa

O ferro que não esquentou

Se você não me conhece

É porque de mim se esquece

Sou o tempo –sim senhor!

 

 

Obs. (escrito no rodapé: não sei)

 

 

 

Meus Vizinhos

 

(Fazenda Paraíso, 26/11/1982)

 

De frente vejo o pradino da mata

Circulante unida ao meu rancho amigo

Onde as cigarras cantam suas serenatas

Lembrando-me canções do tempo antigo

 

O solitário jaó canta mais além

Saudosa canção não sei o que diz

Mas em ouvir me faz tanto bem

É por ouvi-lo, que me sinto assim feliz

 

A saracura que inquieta beberrona

Canta samba para espantar seus males

Esquecer a tristeza não lhe chamarem chorona

Sofre menos quando canta seus cantares

 

O sabiá que lírico sobrevoando passa

Sobre meu rancho no outro dia volta

Levando e trazendo ditosa lembrança

]como repetindo versos o saudoso poeta

curiango noturno me concentra mais

ouvi-lo é somente após a tardezinha

aquela voz sagaz vem mitigar meus ais

 

Em memória prece da Ave Maria

Vem o silencia e lá da imensidade

Um potencial desafio flutua

Vem a brisa me trazer saudade

Num festival sob a luz da lua

Ide depressa, oh sol, em busca da aurora

Traga-me novo dia para meu trabalho

Para a passarada contar minha história

Depois dormimos em vizinho agasalho.

 

 

 

 

 

Acróstico – “Diana”

 

De saudades envolvido estou

Imaginando meu feliz encontro

Ao te encontrar sou o pai que sou

No feliz encontro te amando estou

A sua fotografia a que me entregou

 

 

O Nosso Encontro

 

Zé, te ofereço esta letra como gratidão.

Brasília, 8/02/1980

 

O viver feliz em nosso encontro alegre

É formal ambiente que só nós formamos

O fracasso imediato de uma vida pobre

No aperto de mãos quando nos encontramos

 

Sem sigilo algum em nosso linguajar

Do melhor da vida, que na vida contemos

Das nossas famiilias aprendemos conjugar

No adeus do encontro quando abraçamos

O verbo das famílias  dos amores

 

Amar é sobretudo o que me precede agora

É registrar da boa vida as realidades

Lenizar a dor ficando na vitória

De ter amigos e sentir saudades

 

Terra de Flores

 

(Dianópolis)

 

Dianópolis, terra bela de flores

Em cada viela se encontram amores

São belas, morenas bonitas

Risonhas, ditosas catitas

Deixaram para sempre marcado

Para um futuro de grata ilusão

Relíquias do meu passado

São seivas para o meu coração

 

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