Mário Sérgio Mello Xavier

Dianopolino, 24 anos

Acadêmico de Direito na ULBRA

Jovem Poeta deste Estado.

 

ENTENDENDO O NATAL (09/12/2004)

Vivemos pela vida intercalando épocas de entusiasmo com épocas de desilusão. De vez em quando andamos inchados como velas e caminhamos velozes pelo mar do mundo; em outras ocasiões - mais freqüentes do que as outras - estamos murchos como folhas que o tempo engelhou. Temos momentos dourados, como nesta época natalina agora, em que caminhamos sobre nuvens e tudo nos parece maravilhoso, e outros - tão cinzentos! - em que talvez há algo que adormece e parece ficar assim durante o tempo necessário para que tudo volte a ser belo.

Nessa época natalina, as luzes apagadas se acedem e se rendem ao despertar do dia internacional da paz e da esperança no mundo. Sei que o Natal já existia quando eu vim ao mundo e sempre foi muito bom verificar que cabiam na mesma casa, conosco, os avós, os tios, os primos e os amigos. Havia um calor qualquer que faltava no resto do ano. Um aconchego a que não sabia dar nome. Depois, juntou-se a tudo isto o fato de o Natal acontecer dentro dessa outra coisa maravilhosa que eram as férias e cronologicamente o final de ano, ganhando assim, ainda mais encanto.

Mas chegou a idade de querer saber a razão funda das coisas. Saí de casa, morar sozinho, viver longe do conforto de nossas casas e sair de baixo das protetoras asas de nossas mães. E hoje, resolvi explicar a todos, que vou passar um natal diferente, explicando onde as pessoas compram e vendem presentes, sempre envolvidos nestes lindos papéis de muitas cores. Percebo que os que compram e vendem não sabem dizer o que realmente desejavam. Falam de como tiveram de correr muito nessa época do ano; falam de números, das poupanças, das dívidas que tinham feito; do seu esforço e de como a vida não estava boa para dar presente.

Perceba então, que a maioria nada sabe acerca do verdadeiro sentido que é o Natal. Nas ruas, as luzes não passam de simples técnica comercial e, no fundo, tudo está muito escuro.

Percebam que as famílias continuam a se juntar, é de admirar que nesse país tão espaçoso podem caber muitos em casas tão pequeninas. Coitados que ficam ali sentados, passando o tempo em frente da televisão, envolvidos em monossílabos e gritos. Compreendi então, que são apenas por hábito que se reúnem. Parece que perderam o Natal, conservando somente a roupagem do Natal. É como se houvesse o embrulho bonito do presente, mas sem presente dentro. 

Cito um natal onde pessoas sabem explicar as dores. Pode ser um hospital, uma prisão ou uma barraca de janelas abertas ao frio da noite, onde uma mãe perde um filho. Onde há uma outra mãe com um filho doente. Onde um homem jazia imóvel num leito e gemia não sei que doença. Onde havia um ser humano de sonho gigantesco e umas mãos tão pequeninas, e sofria coitado, de não ser capaz de poder brincar. Cito os cegos e alguns que, vendo, desejam ver de um outro modo.

Não é preciso exemplificar muitos casos, mas posso dizer que com certeza havia uma oração nos lábios de cada um deles; nos olhos de cada um, uma lágrima e, simultaneamente, um brilho de esperança. Estes sim se preocupam com a meia noite, e os que podem, se ajoelham para pedir algo melhor!

Digo-lhes que o Natal é só de quem há muito espera. De quem ainda não se encheu. É só de quem sonhou além das coisas e se vê ainda muito longe. É de quem tem chorado, de quem tem sofrido. De quem olha para dentro de si mesmo e sente medo. De quem não encontrou ainda o seu consolo.

O Natal existe apenas onde existe a falta. Nós, que temos tudo - que pensamos que temos tudo - sofremos da terrível pobreza de não sabermos sequer que somos pobres.

O Natal não é para nós. Eu mesmo com este texto e estas belas palavras não

 sou capaz de entendê-lo...


 

VIDA OU TEMPO

As vezes me espanto com o tempo
Me encanto com sua força de mudança
As vezes ainda me lembro
De muitos sem esperança
Que conhecendo o tempo
Voltaram a ser criança.

Minha vida sombreada pelo tempo
Minhas cicatrizes indicam sua idade e sua pujança
Infância de amigos, colegas e conhecidos
Hoje nada mais é que uma mera lembrança.
Todos os pesadelos com o tempo foram vencidos
Os amores frustrados e a timidez ficaram antecedidas.
Hoje seguimos sem tempo
Mas o renascemos sempre que podemos

Como me admiras este tempo
percebendo que muitas verdades
e muitas das fantasias ilustradas
não passavam de mentiras.

O que o tempo nos faz !
sempre nos dando um prazo
Por isso vivemos preocupados com os atrasos.

Muito me apaixona este tempo
Os anos passam como poeira ao vento
As paixões cada vez mais rápidas o acompanha
A saudade como uma barreira vem e o assanha
E hoje meio escassa também anda sem tempo.

Lembro-me da paixão e sua dor.
Ainda me lembro dos lábios rosados
Dos olhos esmaltados
Do primeiro beijo
De todos meus frustrados desejos
Do aconchego e o agasalho do meu primeiro amor...

MORTE
No deserto meu corpo desaclimado sofre;
Pois meu coração tornara lânguido;
Meus pensamentos inexpressam certezas.

Bocejo com olhos estalados, sem forças para qualquer ação.
Minha estrutura abalada pede rendição.
Minhas pernas não respondem, e o seu deleite é o chão.
Encontro-me estático, não mais contemplo a felicitação.

Minhas palavras sonorizam-se em gemidos
Mistura-se todos os meus sentidos
Toco, mas não sinto nem a mais rústica aspereza de um atrito
Meus olhos lacrimejam, e tudo que sei, é que algo foi perdido.

Porto-me como o mais ocioso vegetal
Meus olhos escureceram diante da luz matinal
Escuridão fria e um calor que não aquece, açúcar e sal.
Onde estou?
Pra onde vou?
Espero-te , venha me buscar por favor não demore..........

SOL AMOR
Como arde este sol,
Queimando minha testa;
Ofuscando minha vista,
Mas sol que aquece meu corpo,
E me transpira as impurezas contidas.

Como arde este sol gigante,
Eis o astro mor,
Nascendo a cada dia e escondendo-se a cada noite,
Em um rítimo de queima e alivia.
Eis aí o mestre do calor.

Eis o sol do AMOR !!

QUANDO
Quando todos pássaros se calarem;
Quando as pessoas não mais falarem;
Quando eu não puder mais ouvir seus lábios
Quando não for mais possível olhar para você
E sentir aquele friozinho na barriga
E por fim quando eu não puder mais vê-la
Terei a certeza de tê-la amado
Mesmo que secretamente.

A VERDADE E A MENTIRA

Nasci como nasce a esperança, me propaguei lentamente e estou sempre indulgente e sou prima da consciência.

Mas ao meu lado nascia a maldade que se propaga rapidamente, ela está sempre com severidade e vive se propagando incomensuravelmente.

Eu sou necessária a vida o verdadeiro me abriga, não admito deslealdade, sou solução para a briga, eu sou a verdade.

Ela é a incorreção, ela nunca é perdoada, se abriga nos fracos de coração, diante de mim ela se acovarda, ela causa a briga, e depois a ira, ela é a mentira.


A VIDA
Formação de nuvens,
Desejo de crescer e se expandir,
Destino incerto, para onde ir?
Não controlo minhas ações,
E sei que um dia irei cair.

Formação de cores,
Desejo de colorir,
Indecisão são muitas as cores,
É preciso tempo e imaginação para decidir;
Paciência, e criatividade para pintar,
Mas sei que quando o tempo vir,
Eu irei me desbotar.

Formação do verde,
Nascer se torna ansiedade,
Em uma fase de semente, o orvalho vem me regar,
Com o tempo irei crescer, por um período vou me frutificar,
E no findar irei morrer, ou até antes do final chegar,
Pode haver alguém que possa me derrubar.

ACORDAR
Pude acordar assustado com meu sonho
Não eras ti, nem eras ela, eras segredo.
Vi meu coração que era rubro
E se tornara negro

Não pude te enxergar
Bebia eu um líquido venoso
Que a sede não quis matar

Pude voar e acordar sentado
Pude acordar seco
E mergulhar no mar

Desfrutei da tarde
Vaguei pela noite fria
Pude modificar o tempo
E acordar cedo

Dormi e não lembro de nada
Acordei e tremia
Sonhei com o vento
Que fortemente me levava
E o meu sentimento era o medo 

AMARAM – SE
Amaram-se sempre à distância, um amor que os deixavam desvairados, cheios de saudade e viviam em dolência.

Mas eras um forte amor, tão forte como as gigantes penhas, e enriquecido pelo seu primor.

Viviam resignados, e não sabiam aonde ir; mas uma fonte fúlgida se expandia e ia ao alcance dos dois amantes.

Eras um amor que não podia se esvair. Eles fuçaram vilas, fazendas, cidades, continentes e mares...

Mas quando em fim numa praia deserta... Ela com o coração candente e ele com o olhar fúlgido e contente.

Mas perceberam que a imagem da distância não era esta; o passado amor não tinha como se fenecer, mas eles haviam descoberto que juntos eles não podiam viver.

Depois de viverem resignados a distância, não podiam viver se não separados, apaixonadamente desejando um ao outro.

E entre risos e lágrimas, despediram-se indo morar distantes.

AMOR MAIOR DO MUNDO
O teu cheiro percorre pelo ar.
Flor que perfuma ao se abrir.

Odor que refresca meu ser,
Envolve-me sem que eu possa perceber.

Teus movimentos sensuais que são embalados pelo vento.
Observo-te perplexo e atento,
Agitando meu sentimento.

Peço que volte por favor,
E eu farei a ti um canto,
Um canto com notas de amor.
E que este som percorra o mundo,
Este que será inspirado no seu encanto.

Ainda choro por você.
Chuva de dor em meu peito,
Enche meu coração estreito,
Vazante jorrando lágrimas ao tempo.

Este imenso amor que me coroe fundo,
Amor imenso que aumentaste ao verte,
Espalhaste e ei de ser o maior do mundo.

ANJOS VOANTES
Serenata de sons, o sol preguiçoso no horizonte risonho, aparece brilhante e cheio de sono.
E os sons do anjos penados, que belo canto se ouve distante, orquestra de instrumentos de vários formatos,
‘são músicos voantes !
Bicos flautados, bicos trombeteados.
Cantos de sofrimentos, cantos de amantes, são decorrentes, do dia nascente.
Anjos voadores, que cruzam o norte e o sul com cantos de ré – menor. Anjos de cantos diferentes, mas cantos majestosos, do pequenino ao maior.
Anjos que seguiram cantando, fazendo folia, alegrando o dia, voltarão cantando, mostrando a alegria de viver, e estarão despedindo do dia, pois chegou o entardecer.

ARREPENDERAM

Com rebolados nossas atenções chamaram
Com os olhos nos encantaram
Com seus lábios nos beijaram.

O amor nos prometeram
Com suas carícias nos apaixonaram
Com as palavras não conseguiram
Mas com as lágrimas nos convenceram.

Com tudo isso nossos corações levaram
Usaram que abusaram
Só que de uma coisa vocês esqueceram
E hoje nós somos assim
Porque nossos corações vocês não devolveram!!!!!

BELEZAS
Pude conhece-las, negra beleza estonteante, pude tela para mim, a simplificação da beleza com cabelo pichai. E lábios carnudos, de movimentos imponentes.
Pude conhece-la, loura encantadora,
Pude tê-la em meu coração
Ela possuía um olhar azul de sedutora,
E cabelos com fios de raio de sol .
Era dona de um corpo nu de pecadora,
Pois me causava tentação.
Pude conhece-la, morena angelical,
Cabelo castanho clareado,
Uma beleza facial sem igual,
Cabelos caracolados,
Pele clara, e lábios rosados,
Ela possuía no coração a paz que combatia o mal.
Pude conhece-la, morena de olhos esverdeados,
Cabelos lisos e negros, como a delicadeza da seda,
Pele morena, cor de jambo amadurado,
A beleza que todo homem almeja,
E que os deixam apaixonados.
Todas me deixaram contente.
- Por que tanta beleza e diferença?
Por Ter vivido tais experiências,
Viverei indeciso para sempre. . .

CANTOS
A abelha com seu incansável zanzar,
Trabalha duro sem parar, com seus zunzunar.

Sua casa é um pé de pequi,
E no mesmo pé, se ouve os estridular do cancioneiro bem-te-vi.

É uma árvore de fruto cheiros,
E sua flor um néctar gostoso,
Onde só quem pode explicar o teu sabor é o lindo Beija-flor.

Terra de horizontes esplendorosos, que no entardecer,
A cima de um pau seco se pode ver um gavião grasnar, todo garboso,
E nos campos abertos, outro canto se ouvia, os sabiás, os quenquém, os canários e o sabiá.

No amanhecer vários cantos podiam se escutar:
Uma galinha que não para de cacarejar, e o galo respondendo com seu cucuritar.

As juritis com seus turturinamentos, e aos bandos os periquitos barulhentos.
No curral, o bezerro não para de mugir, como se parecesse pedir para o libertar.

E a vaca zangada, não para de berrar junto ao boi que imponente segue a bufar.
E o coitado do jumento, trabalhando não para de fungar.

No anoitecer que os barulhos irão finalizar...
Com o zangarrear da cigarra no pé de ingá.
 
CASTIGO
Tu ficaste ao meu lado, teus lindos cabelos eu toquei,
E eu os atei... Desatei...
E eu me vendo sempre despenteado.

Eu lhe tratei com glamour.
Na tristeza eu te animei,
E a seu lado eu só chorei.

Na continuidade de um ser, não senti mais amor,
Não sentia mais gosto em teus beijos,
E hoje eu não mais te gabo,
Eu te fecho e te abro.

Hoje lembrei do tempo em que tu não me amavas,
E eu lhe concebia tudo.

No momento eu te lavo e te sujo,
Tornou-se minha escrava.

Ainda hoje aos meus pés tu se arrastaste,
E agora eu te trato e maltrato,
Faço de ti gato e sapato,
Tudo isso por que um dia você não me amou.

CHUVA DE AMOR
Chuva que rega
Hidrata a terra e faz semente brotar
Salva-te da seca, mas não faz secar.


Chuva que cai sem tréguas
Chuva que te faz enchente
Pingo a pingo ela fura
E sem ela a solidez vira rachadura

Chuva em excesso enche, minguada te deixa doente.
Chuva que alivia o calor
Lava a alma
Sem os raios és clama
Chuva de amor.

CHUVA E TERRA
Existe uma relação entre a chuva e a terra, a chuva o homem e a terra mulher. A terra é vaidosa, se passa muito tempo sem a chuva, fica seca, querendo se umedecer. Então quando a chuva cai tocando tua camada vem aquele aroma, e ela fica toda cheirosa.

Ela precisa de chuva para manter firme seus cabelos, não os pode deixar secar, seus cabelos são as árvores, que precisam da chuva para se hidratar.

Precisa da chuva, para dar sempre um castigo, aos piolhentos humanos sugadores, que intrusos, habitam sua superfície, destruindo a sua beleza com seus inventos.

A chuva cai sem parar, para levar através da correnteza, suas moradias de concreto e cimento.

E quando piora seus castigos, ela cai em forma de granizo, quando não adianta nada, ela fás uma longa estiada.

Cai para agradar a terra, sua fiel amante, cai para mostrar o que sente, pois sabe que é a única cura quando a terra está doente.

Mas há lugares em que a chuva não cai para a terra, e se cai uma vez deixa saudades, ao voltar, correm lágrimas de felicidades. Suas lágrimas são os rios, e a chuva sabe que se não visitar a chuva nestes lugares, as lágrimas da terra podem secar.

A terra fica muito animada quando a chuva está em uma daquelas invernadas.
E assim a chuva vai caindo...
Caindo... caindo...
Para manter a terra sorrindo.

CORAÇÃO CRUCIFICADO
Ele se inquietava em meu peito,
Quando tuas palavras soavam em meus ouvidos,
Tu fostes, ele agora está partido.
E unificá-lo não tem jeito.

Foi dividido,
Em duas partes iguais,
Que sofrem constantemente
Um de carinho é carente,
E outro de amor e desprovido.

São duas metades que se revoltou,
São indignados com um ser malvado,
E este ser, és tu que o crucificou

DALVA
Quanta beleza e ternura, amor que não acabava.
Quanta paixão, eu me enlouquecia por Dalva.

Mas com o tempo, o sim virava não;
Sua companhia se tronava solidão;
E teus beijos me sufocavam.

A mentira era sua explicação;
O conforto de teus braços me incomodavam,
Eu não entendia por que tanto amor minguava.
E a luz que havia em teus olhos se tornara escuridão.

Mas somente ao perder Dalva,
Que eu passei a ter inspiração,
Pois o amor que me segava,
Ao se acabar me devolvera a visão.

DIZERES
Sempre apregoa estes teus dizeres e suas sumas idéias, sem perceber a sombra aposta, que sempre a protege, esta que possui a força e a bravura de várias alcatéias.

Disposta a levar-te onde teus mais longínquos sonhos irem, e levarias ti com rapidez, ainda assim, com um dócil carinho de quem a ti sempre será fiel pelo resto da vida que poder absorver.

Sendo assim sua aguçada visão, mesmo em pontos escuros seria clareza pura, sempre te dando certeza de que tu estarás alojada no coração.

VIAGEM SEM VOLTA
O retorno, irmão do regresso.
A solidão corroendo fundo.
Serviçal noturno;
Vivendo sem acesso.

Contemplador da derrota.
Atirador sem miras.
Traça o destino.
E o vê fugindo pela porta.

A ele nada interessa e nada importa.
Não sente fome durante dias.
Não se dirige, e sempre se entorta.

Ainda ontem ele vivia.
Hoje se extinguiu em suicídio.
Fez uma viagem sem volta.


Volta