SEGUNDO CAMINHÃO EM DNO - MANOEL ANTÔNIO

 


 

Texto extraído do livro "Minha História" de Casimiro Costa:

 

            No dia 03 de Setembro de 1941 aqui chegou o Sr. Manoel Antônio, pernambucano, proprietário e chofer de um caminhão Chevrolet Tigre.

            Já sabendo do acontecimento do seu arrogado feito, o esperávamos com alegria própria de que deseja a prosperidade e o desenvolvimento tão preciso para a vida dos centros, onde tarde ou nunca chega o bafejo oficial.

            Foi assim pois, que as 14 horas do dia ouvimos o buzinar do seu carro entrando numa das ruas desta cidade ao espocar de rojões de foguetes e de adrianinhos até o centro da praça principal onde recebem as manifestações públicas e particulares.

            Foi assim combinado pelo povo por uma comissão de senhoras da alta sociedade, oferecer-lhe um banquete campal que realizou-se hoje em aprazível sítio no subúrbio desta cidade, à senhora de seculares mangueiras a um kilômetro daqui.

            O Sr. Manoel Antônio ofereceu e fez transporte de todos em seu carro co exceção apenas do Colégio João D` Abreu e das escolas publicas que desejavam ir uniformizados e organizados com seus estandartes e a bandeira nacional, mesmo porque estavam em festejos de comemoração da nossa gloriosa data da Independência Nacional.

            Por ser um festejo geral ali compareceu quase toda população. Foi lindo e animador ver-se a transparência de verdadeira alegria em todos os semblantes.

            Depois de tudo em boa ordem e organizações, falou o competentíssimo professor Coquelin Ayres Leal diretor do Colégio, oferecendo a festa ao feito de arrojo de Sr. Manoel Antônio em nome do povo dianopolino, a qual tinha tido a honra de condizer com este tão glorioso dia. Houve outros discursos, poesias e cansonetos pelos alunos do Colégio, inclusive o de minha incompetente palavra o qual abaixo transcrevo:

 

Ilmo Sr. Manoel Antônio

Exmo Sr. Prefeito Municipal

D.D. Assistentes

 

            Apesar da minha incompetência oratória, não dispondo mesmo por esta razão de uma coordenação de idéias completas para minhas orações, para bem demonstrar o quanto desejo e sinto, mas mesmo assim com o fim de patentear os meus sentimentos de justos e merecidos aplausos ao caso que está dando lugar a esta modesta festa, venho pedir as vossas atenções por alguns minutos e também antecipadamente agradecer. Estamos em pleno sertão do coração do Brasil, por isso mesmo ....(103)16....inspiração divina foi escolhido para o nosso presente festejo o abrigo destas frondosas mangueiras no subúrbio da cidade. Bem sei que não houve premeditação especial para isso, e sim para justificar o que na realidade é, a franqueza e a verdade do sertanejo. Estamos festejando um ato de heroísmos de um sertanejo e não devíamos cerca-lo de preconceitos e formalidades em salões com adornos, e sim dar como testemunha os elementos que da realidade representam a prodigiosa exuberância da natureza. Aqui pois estamos em abrigo destas seculares mangueiras cercadas por tantas outras frondosas árvores que servirão de testemunhas a nossa modesta manifestação tão....(103)32.....quanto é lindo e sagrado as testemunhas.

            Estamos no tempos da evolução do progresso, este, cedo ou tarde terá que atingir a todos os pontos e para que ele venha é preciso que antes tenhamos os meios de transporte. Para a execução de uma ação nobre ou feito gloriosos, precisamos primeiramente que o seja idealizado e quase sempre por um antecessor ao realizador.

            O grande e imortal Santos Dumont não foi o inventor do balão mais foi que deu a utilidade precisa a dirigibilidade.

            Tiradentes o mártir, não foi quem proclamou a independência, porém, foi quem idealizou e por quem deu a sua preciosa vida.

            Tudo tem o seu tempo, o seu dia e seu fator, desse segundo feito heróico, porque em Janeiro de 1930 aqui já havia buzinado a primeira máquina de um caminhão Ford, trazido pelo valoroso filho desta boa terra professor Coquelin Ayres Leal justificando que para o homem de valor não existe obstáculo em coisas possíveis.

            Os desta localidade e que também são da sua família, o cercaram de ....(104)21....e carinhos dignos e próprios das boas almas para os arrojados feitos. Era sua idéia fazer a estrada de rodagem pra ligação desta cidade à Barreiras, e que, por circunstancia independentes a sua vontade não foi realizado. Não era ainda o tempo, assim justificam as circunstancias da ocasião.

            Caros ouvintes, nunca é de sobra o cumprimento do dever, é por isso que aqui nos achamos reunidos para festejar e comemorar o feito glorioso de um patrício brasileiro. O Sr. Manoel Antônio aqui presente, que sem medir dificuldades com desprendimento da própria vida tem a indomável coragem de meter  o seu carro, o poderoso Chevrolet Tigre na estrada tropeira de Barreiras para esta cidade.

            Aqui pois se acha, e veio nos trazer o seu fraternal abraço de patrício vizinho, com a alvissareira notícia e prova de que é possível o tráfego de rodagem nesse trecho.

            Dianopolinos, bem sabeis que o futuro promissor desta cidade e grande trecho da zona deste nosso querido norte de Goiás depende desta estrada, portanto, manifestar o nosso aplauso e apoio a este intinerato desbravador de sertões, não é simplesmente um aplauso, é mais que isso, o cumprimento de um dever.

           

Exmo Sr. Prefeito Municipal

           

            É a Vossa Excelência agora quem me digo em nome deste município que esta tendo a honra de vos ter como seu dirigente. Ai está o homem, o feito e a nossa real necessidade diante de vós e do vosso conhecimento, é para vossa administração que apelamos. Bem sabemos o quanto é pobre nosso município, mais que aliado a vossa boa vontade e patriotismo, muitos poderá fazer dentro das relativas possibilidades.

            Caros patrícios, é um dever de gratidão e admiração prestar-lhe nosso preito de homenagem aos heróicos feitos, portanto Sr. Manoel Antônio aceitais a nossa sincera manifestação de admiração pelo vosso heroísmo com os votos para retorno e continuação.

            Dianópolis, 07 de Setembro de 1941.

       

            Casimiro Costa

 

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