DIANÓPOLIS EM ASCENSÃO

Péricles José Cândido Póvoa*

15/06/2007

Tudo na vida tem seu tempo e sua hora. Dianópolis, cidade localizada no antigo Norte de Goiás, chamado “corredor da miséria”, foi sempre excluída pelos governantes, que de quatro em quatro anos davam o ar da graça, faziam suas promessas mirabolantes, desapareciam e silenciavam por mais quatro anos. E assim Dianópolis seguia sua vidinha medíocre e sem perspectiva; os jovens saíam em busca de melhores condições de vida e estudo e não mais retornavam; não havia indústrias ou empresas que oferecessem trabalho; comércios fechavam suas portas e residências permaneciam trancadas, por falta de inquilinos. E assim permaneceu por muitos e muitos anos, até que um dia um “anjo da guarda”, filho amoroso desse pedaço de chão, chamado João Rodrigues Leal, em sua primeira oportunidade como funcionário da Câmara Federal no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, através do então deputado federal João D’ Abreu, trouxe para cá um colégio com curso ginasial, comandado por uma congregação de freiras espanholas e brasileiras, com um respeitado corpo docente, entre os quais o padre João Magalhães Cavalcante, professora Sulamita, Madre Aranzazu e tantos outros.

Com a vinda do Colégio foram implantados novos costumes, novas mentalidades, principalmente com a disposição do jovem e batalhador padre Magalhães, a quem também devemos toda nossa gratidão. Dr. João Leal trouxe água encanada, uma hidroelétrica, correios e telégrafos, uma agencia do BASA e, com sua prestimosa ajuda, também o Instituto de Menores, administrado pelo competente jovem Hagahús Araújo e Silva. Anos se passaram e nossa cidadezinha continuava sem perspectivas, recebendo seus filhos apenas como visitantes em época de férias.  Diante de tudo que João Leal proporcionou a Dianópolis, nunca lhe foi prestada uma homenagem, nem reconhecido o seu valor.  Candidatou-se a deputado e perdeu dentro de sua própria cidade, para o arraiano José dos Santos Freire. Essa foi a sua recompensa. Como já disse em outras ocasiões, sou contra as homenagens póstumas; pessoas como João Leal deveriam ser homenageadas, prestigiadas e enaltecidas em vida e não após a morte, onde seus olhos não vêem e seu coração não sente a emoção, a felicidade e a alegria do reconhecimento pelo dever cumprido.

Depois desse primeiro incentivo, nossa cidade, que antes andava a passos de tartaruga, pisou no acelerador e partiu rumo ao progresso, com o asfalto que nos ligou a todas as regiões do Brasil; empresas e famílias chegaram de várias partes do país, como nordestinos, gaúchos e paranaenses, que iniciaram o progresso em nossa região. Destacamos a Faculdade que aqui se instalou, para dar melhor instrução aos nossos jovens e ao nosso povo.  Destacamos o projeto hidroagrícola Manuel Alves, fruto de um complexo de obras fixas, a partir da barragem feita no rio do mesmo nome. O empreendimento beneficia uma área de cinco mil hectares, disponibilizando os recursos hídricos para usos múltiplos, como foco principal na irrigação que irá gerar inicialmente 2.500 empregos, ou seja, uma população flutuante de mais ou menos dez mil pessoas. Existe em construção seis pequenas centrais hidroelétricas, gerando mais de três mil empregos,  de responsabilidade de empresas idôneas, dentre as quais a Toctao Engenharia, de Goiânia, sob a direção de empresários de extrema idoneidade moral, honradez, capacidade administrativa e humanitária, que trabalham com técnicas extremamente qualificadas e responsáveis pelos trabalhos que executam com esmerada perfeição.

É certo que o progresso traz intranqüilidade; os malfeitores procuram sempre as cidades em desenvolvimento para executarem seus intentos.  Dianópolis tem sido abençoada por nosso padroeiro São José, talvez pelos grandes sofrimentos dos quais nossos antepassados foram vítimas e a perda de vários chefes de famílias em 1919, sacrificados no tronco covardemente por seus algozes.  A violência hoje nos preocupa, mas, por outro lado, sentimos seguros com as autoridades responsáveis por nossa segurança, iniciando pelo Judiciário, sob a responsabilidade de dois magistrados, Ciro Rosa de Oliveira e Jocy Gomes Almeida; temos o Ministério Público que sempre se preocupa com o bem estar da comunidade; temos a Companhia Independente da Policia Militar, comandada pelo capitão Honorato Melo; a polícia civil tem sob sua direção o Dr. Claudemir, jovem delegado regional, receptivo e atencioso a qualquer reclamação da comunidade.

Como disse o poeta Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”.  Em meu último artigo neste Jornal critiquei o senhor Átila Ferreira de Lima. Contudo, após ser convidado para fazer uma visita à Casa de Prisão Provisória, constatei in loco o trabalho bem intencionado e direcionado para a ressocialização de aprisionados. É preciso reconhecer o serviço qualificado que agora vem sendo ali desenvolvido.

O aquecimento do comércio e a melhor qualidade de vida do povo dianopolino são evidentes.  Muito nos orgulha o retorno dos nossos filhos, que após concluírem seus cursos superiores contribuem com o progresso nas mais diversas áreas de atuação humana; também nos orgulhamos dos vários escritores que têm divulgado nossa história e nossa cultura, além dos nossos competentes profissionais que atuam na imprensa. Como disse o saudoso presidente Juscelino Kubitschek, “constantemente retorno à minha terra natal para rever os passos que dei e adquirir forças para lutar e trabalhar pelo chão que me viu nascer”.

Diante desse progresso, resta-nos apenas a saudade daquela cidadezinha pacata, calma, sem barulho, onde as crianças garimpavam pepitas de ouro após as chuvas nas enxurradas do meio das ruas esburacadas. Hoje passamos despercebidos no lugar em que nascemos  e parece que perdemos a nossa identidade, onde todos conheciam todos. Temos saudade do velho córrego Getúlio, hoje poluído, antes caudaloso e de águas límpidas, onde as lavadeiras, no seu ritual festivo, lavavam suas roupas enquanto a meninada nadava ao sabor da correnteza, como um bando de gaivotas em festival de verão. Mas isso ficou no passado. Restam-nos as recordações, além das fiéis e inabaláveis amizades sinceras dos nossos parentes e amigos. É o preço do progresso.

 

Assessor da Residência Rodoviária de Dianópolis – Dertins

E-mail: periclespovoa@ibest.com. br