NO MEIO DO CERRADO HAVIA UMA ESCOLA TÉCNICA

 

 

Jader de Melo Rodrigues *

07/02/2004

 

 - Uma vez , o caminhão do Instituto de Menores [1] estava com o motor de arranque defeituoso. O jovem Salvador desmontou o “bicho” todo cuidadosamente, peça por peça, depois desenhou o seu diagrama elétrico. Seguindo o desenho, restaurou o funcionamento do equipamento sem ter recebido qualquer treinamento sobre o assunto.

Foi assim que ele desenvolveu sua própria metodologia de aprendizagem. Era uma mistura de curiosidade, paciência e imaginação, ou seja, uma salada intelectual. Aprendeu mecânica, eletricidade, pintura de automóvel, refrigeração e mineração. Sempre foi um autodidata.

Em um outro momento escrevi sobre criatividade. E agora eu vou falar outra vez sobre este assunto. Produto cada vez mais raro atualmente. Desta vez dedico este texto ao meu tio Salvador [2] .Uma pessoa que merece admiração, respeito, não só da sociedade dianopolina, mas dos órgãos oficiais de educação do Estado do Tocantins, pelos benefícios que ele proporcionou à população dianopolina. Ele merece reconhecimento por ter usado sua inteligência, habilidade e técnica para bem do progresso com responsabilidade. Educou, treinou e deu oportunidade de emprego. Gerou e descobriu talentos escondidos nos garotos vindos do sertão para a cidade. Tornou-se um mestre com preocupação social iniciada muito antes de estar na moda. Seus alunos sempre foram tratados com humanidade. Eram como verdadeiros filhos. Ele poderia estar rico, no entanto, preferiu compartilhar seus conhecimentos com aqueles que tinham vontade de aprender. Abriu mão de fazer de sua técnica, habilidades, uma fonte de rendas.

Muitos profissionais de respeito existentes hoje em Dianópolis e até mesmo fora do Estado, professor do SENAI [3] , aprenderam na Oficina Universal. Seus ex-alunos tornaram-se concorrentes. Porque depois de aprenderem a profissão, construíram sua própria oficina, disputando com ele os mesmos clientes. Isso não era motivo de preocupação. O Mestre não se intimidava. Outros continuaram aprendendo, mecânica, eletricidade, refrigeração, pintura, e eletromecânica. Muitas famílias foram e continuam sendo sustentadas com os resultados dos seus ensinamentos profissionais.

O que mais chama a atenção, é o fato de isto ter iniciado numa época que esta região era a parte esquecida, desprezada. O Governo era instituição ausente na região e as pessoas não passavam de estatística nos resultados das eleições do Estado de Goiás. Ele, então, preencheu o espaço vazio deixado pelos órgãos e que era de responsabilidade das pessoas dos governos Municipais e Estaduais.

Temos a cultura de falar mal das pessoas. De sempre dar valor ao lado negativo do nosso semelhante. Cometemos erros que nós mesmo condenamos. Também é muito comum tecermos comentários elogiosos aos mortos e há resistência em fazemos elogios aos irmãos, amigos e filhos quando eles ainda estão vivos. Chega de homenagens póstumas.

Salvador Rodrigues de Santana merece o reconhecimento da Câmara de Vereadores pelos seus honrosos benefícios ao povo dianopolino.

Isto que está escrito aqui não é nada. É uma pequena observação. É pouco diante do ele fez pela sociedade. Sua história merece ser pesquisada com mais detalhes.

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[1] – Instituição de cunho social criada por Haghaús.

[2] - Salvador Rodrigues de Santana  também conhecido por “Dozinho”.

[3] - SENAI – Serviço Nacional da Indústria.

 

* É acadêmico do curso de Administração pela Universidade Federal de Rondônia. Técnico em Telecomunicações e Informática.

 

       

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