18/12/2004
O Natal por si só,
já nos leva a um estado de espírito de confraternização e harmonia. Embora
o texto abaixo trate de morte, entendo-o oportuno para ser publicado, pois
nesta época tratamos do nascimento daquele que morreu para que todos renascêssemos
e aprendêssemos a amar ao próximo como a nós mesmos: “Um médico cirurgião
que leciona já por algum tempo, por
treze anos dissecou cadáveres e em sua carreira estudou anatomia a fundo e
escreveu a respeito da morte e
como foi a de Jesus. Ele entrou em agonia no Getsemani e Seu suor tornou-se
como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único evangelista que relata o
fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um clínico. Ao suar
sangue, ou “hematidrose”, é um fenômeno raríssimo, produzido em condições
excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física,
acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção
ou por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se
carregando todos os pecados dos homens deve ter esmagado Jesus. Tal tensão
extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as
glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a
pele, e então escorre por todo o corpo até a terra. Conhecemos a farsa do
processe preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o
desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede e então ordena a
flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. A flagelação se efetua
com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e
de pequenos ossos. Os carrascos
devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com
chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do
suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue jorra. A cada golpe
Jesus reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem;
um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea,
calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto
pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue. Depois o escárnio da coroação.
Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma
espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no
couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro
cabeludo). Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão
feroz, o entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o
grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca
vertical já está plantada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés
descalços pela ruas de terreno irregular, cheia de pedregulhos. Os soldados o
puxam com as cordas. O percurso, é de cerca de 600 metros. Jesus fatigado,
arrasta um pé após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os
ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga
lhe escapa, escorrega e lhe esfola o dorso. Sobre o Calvário tem início a
crucificação. Os carrascos despojam o condenado mas a sua túnica está
colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de
gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à
carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas
em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco
de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue
começa a escorrer. Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de
pó e pedregulhos. Depositaram-no sobre o braço horizontal da cruz. Os
algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira. Jesus
deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado.
Pode-se imaginar aquilo que Ele deve ter provado; uma dor alucinante, agudíssima,
que se difundiu pelos dedos e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro.
A dor mais insuportável que um homem pode provar ou seja, aquela produzida
pela lesão dos grandes troncos nervosos o que provoca uma síncope e faz
perder a consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a
lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego; quando o corpo for
suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino
esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará
despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas. O
carrasco e seu ajudante empenham a extremidade da trava; elevam Jesus,
colocando-o primeiro sentado e depois em pé; conseqüentemente fazendo-o
tombar para trás, o encostam na estaca vertical. Depois , rapidamente
encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima
esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera. As pontas cortantes da grande
coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para a
frente uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada
vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor.
Pregam-lhe os pés. Ao meio dia Jesus está cansado,
não dormira na longa noite que se passou, pois precisava orar.Tem
sede, não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue.
A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta
seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado lhe estende
sobre a ponta de uma vara, uma esponja umedecida em bebida ácida, em uso
entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se
produz no corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração
que vai se acentuando; os músculos dos ombros “deltóides”, os bíceps
esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido
e com tétano. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se
generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em
seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço e respiratórios. A respiração
se faz pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue
mais sair. Jesus respira com o ápice
dos pulmões. Tem sede de ar, como um asmático em plena crise; seu rosto pálido
pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e
enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar
não podem mais esvaziar-se. A
fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita. Mas o que
acontece ? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de
apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva
aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A
respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto
recupera a palidez inicial. Por que este esforço ?
Porque Jesus quer falar: “ Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem.” Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia
recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz; cada
vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés. Pouco
depois o céu escurece, o sol se esconde. De repente a temperatura diminui.
Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas. Todas
as suas dores, a sede, as câimbras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos,
lhe arrancam um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes ?”
Jesus grita: “Tudo está consumado !” Em seguida num grande brado diz:
“Pais nas tuas mãos entrego o meu espírito.” E
morre em meu lugar e no seu.”