Cartas de Mongomeyen II (África) – Morar no exterior, a que preço?

 

 

Átila Costa Conceição*

 

20/06/2009

 As causas das inúmeras dificuldades de se viver no Brasil hoje: nossa herança escravocrata, a desigualdade, a violência e exclusão social. O Brasil se acostumou com as injustiças, como se fosse natural a convivência entre tanta desigualdade. Nosso país se habituou a conviver com a violência, com o lado feio da vida.

Acredito que tenha passado pela idéia da grande maioria de brasileiros de, um dia, morar no exterior. O que poucos saem é que as dificuldades a serem superadas são inimagináveis. Acho que, mais do que estar longe da família e dos amigos, o medo do novo, que mais assombra, é: o que irei encontrar? Surge então a pergunta: por que arriscar?

A resposta vem de imediato: é para termos condição de dar aos nossos entes queridos condições dignas em nosso País de origem. É evidente: gostaríamos de estar no Brasil, é claro, perto de tudo e todos, dos familiares, dos amigos, das pessoas que falam o mesmo idioma, das coisas mais simples que possamos imaginar.

Para todos que pensam em morar no exterior, vocês devem encontrar uma razão dentro de si para fazer isso. Se tudo que querem é apenas uma aventura ou uma oportunidade de ter um salário melhor, a saudade vai te comer por dentro e até mesmo aqueles amigos no Brasil que você pensava que não valiam nada. Serão as pessoas mais importantes da sua vida! Por isso, se você quer realmente crescer como pessoa, crescer profissionalmente e trazer uma vida digna a sua família, aí sim: você deve sair do Brasil.

Existe mais coisas que determinarão isso. Se for um sonho, dizem que: “os sonhos são o alimento da alma”. Então fiquei me perguntando: quais eram os meus sonhos? Quais são e quais serão? Na infância eram uns, na adolescência eram outros, assim como na vida adulta, com certeza, eles são diversos daqueles que sonharei daqui a 10, 15 ou 20 anos. Quais foram concretizados? Quais não, mas que ainda podem rolar? Quais são os novos sonhos? E quais serão? Quantas perguntas, não é?

A conclusão a que cheguei é: não é fácil realizar um sonho, seja ele do tamanho que for. Não há mágica (embora a gente torça para que haja, nem que seja, de vez em quando). É preciso arregaçar as mangas e lutar. O sonho alimenta a alma sim, mas é a alma (ou a força dela) que nos inspira a lutar, para tornar o sonho, realidade. Respondendo as perguntas acima, pode ser que você consiga chegar a uma decisão, morar ou não no exterior?

Aqui fora, cada manhã, cada dia, é um novo desafio. Surgem, surgem e surgem mais problemas. A forma que os encaramos reflete nossa postura perante as situações. Há os que despertam descontentes e contemplam as horas novas como uma carga, que deve ser transportada a qualquer custo. Outros olham o dia que surge e logo alçam o pensamento em fervorosa prece de gratidão, pela renovação da vida.

Tem dias que pensamos em desistir de tudo, por doença, por algum atrito profissional, pela solidão em que vivemos, mas logo vem a mente o retorno que nosso esforço e trabalho vai nos trazer futuramente.
Deixamos muitas pessoas queridas, amores, famílias e amigos para trás mas, para aqueles que se amam, onde estiverem, continuarão se amando, mesmo que momentaneamente apartados. Meus filhos, minha família e principalmente minha mulher. Fabíola, tudo isso tem uma razão, você. No entanto, logo mais, a vida nos dirá o quanto isso foi importante, nos reencontraremos, mataremos a saudade, após essa longa jornada, nos encontraremos para compartilharmos o carinho, afeto e sentimentos que sempre existiram.

Quando a saudade aperta nosso peito, os nossos pensamentos são sempre de carinho, com a certeza de que tudo isso é passageiro.

Sábios são os que, em meio à adversidade, conseguem elaborar preciosas lições de vida, modelos que podem ser seguidos pelos que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir.

Refletimos sobre tudo isso e cultivemos as alegrias de que necessitamos, aos nobres serviços do amor, do trabalho e da razão de viver.

 

O dianopolino Átila Costa Conceição trabalha numa construtora em Mongomeyen, na Guiné Equatorial, África central. Vive lá desde março de 2008.

       

 

 

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