ÚLTIMO TANGO

J. Alencar Aires*

O último tango foi aquele
que dos pássaros
nenhuma palavra eu soube decifrar.

A última prenda foi a outra
a que da clave da vida
recolhi o meu silêncio.


A última música não foi a festa
não foi a música
foi o espanto que de repente
inaugurou seus olhos.

O perdão não foi aquele que inventei
foi o momento simples de chuva
em que deposite em suas mãos
a capacidade de entender.

A raiva foi apenas a porta entreaberta
onde minha permissão estava trancada
na ponta do seu desejo.

A pressa foi aquela em que não tive
tempo de compreender
a emoção calma do tempo
envelhecendo as coisas.

O último tango
foi aquele momento excessivo de vida
que me deram
e não compreenderam
que eu necessitava apenas de nada.

 

*Poeta, escritor, músico e compositor

       

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